Tive esta semana notícias de Moçambique, país irmão, que tem a nossa língua como língua oficial, e que é um país em que a fome assola, as cheias e ciclones devastam o território ciclicamente, o analfabetismo é atroz, factos que aliados à devastação das guerras, desde a guerra do Ultramar à posterior guerra civil, que destruíram as já de si exíguas infra-estruturas que lá deixámos, exigiam uma tarefa hercúlea do governo para o desenvolver, e promover o bem-estar e a segurança, fins últimos de qualquer Estado.
Ao breve relato nu e cru que fiz, juntam-se agora outros dois, não menos graves, a Pandemia Covid-19 e o terrorismo do DAESH a eclodir no norte na província de Cabo Delgado, factos que só agravarão, ainda mais, as já de si paupérrimas condições do país.
O Presidente recentemente eleito, numas eleições muito contestadas, mesmo que decrete confinamento social, este não é praticável num estado em que não existem casas, nem água canalizada para se higienizarem as mãos, nem serviço de Saúde que consiga tratar de ninguém decentemente no dia-a-dia, quanto mais numa pandemia.
Pertenço aos órgãos sociais de uma pequena Organização sedeada no Concelho de Mafra e generosamente sustentada pela sua população, que se chama Ajuda Fraterna à Ilha de Moçambique, que tem vários projetos na Ilha de Moçambique e no Continente próximo, sendo o mais importante deles o projeto das escolinhas, onde ministramos instrução, em português, a cerca de seiscentas crianças e sobretudo matamos-lhes a fome, fornecendo-lhes a única refeição que comem diariamente.
Esta semana o governo moçambicano mandou fechar todas as escolas do país, por causa do Covid, decisão aparentemente acertada, no entanto preocupa-me muito que esta medida irá certamente matar as nossas crianças pela fome.
Sim a fome mata 50 milhões de africanos anualmente em África.
Temo uma catástrofe humanitária e que tenhamos que encabeçar, posteriormente, uma operação de Ajuda Humanitária no âmbito da União Europeia em Moçambique, operação no âmbito das missões de Peteresberg, em que Portugal há cerca de 15 anos, a pensar específicamente em Moçambique, conseguiu a custo impôr aos seus aliados a possibilidade de efetuarem estas operações até 12000 Kilometros de Bruxelas, tendo eu na altura colocado na UE, tido a honra de negociar e pilotar esse processo.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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