Saúde

Artigo de opinião: Viver com a demência em tempos de COVID – Conselhos para quem cuida

Perante a situação atual da pandemia do COVID-19 e enquanto nos esforçamos para proteger toda a nossa população, precisamos de prestar especial atenção à segurança e saúde das pessoas com Demência. A Demência não constitui, por si só, um fator de risco para a infeção pelo COVID-19. No entanto, a idade avançada e a existência frequente de comorbilidades, como doenças cardíacas, pulmonares ou diabetes, tornam as pessoas com Demência mais vulneráveis e colocando-as no grupo de risco. Este facto torna-as mais suscetíveis a apresentarem sintomas mais graves se contraírem o vírus.

À luz destas preocupações, o que podemos fazer para proteger os nossos séniores e, especialmente, quem tem Demência?

Como minimizar a exposição ao COVID-19?

Em casa, as pessoas com Demência podem precisar de mais lembretes sobre a importância de manter as boas práticas de higiene no seu dia-a-dia. Assim:

  • Coloque pequenas mensagens na casa de banho e em outros lugares da casa para lembrar a pessoa de lavar as mãos por 20 segundos;
  • Mostre à pessoa, de forma calma, como lavar as mãos corretamente. A pessoa com Demência pode ter dificuldades em lembrar-se da sequência dos movimentos de lavar as mãos. Faça com ela um passo de cada vez.
  • Poderá ser também útil imprimir uma figura da Direção Geral de Saúde com as instruções de lavar as mãos. Cante com a pessoa a sua música favorita por 20 segundos ou use um sabonete com uma fragância que ela possa gostar;
  • Mantenha a pessoa com Demência ocupada com atividades que envolvam as mãos, como arrumar a roupa de uma gaveta, dobrar toalhas, ver álbuns de fotografias ou fazer trabalhos manuais, visto que é recomendado que as mãos permaneçam afastadas do rosto;
  • Reduza ao máximo as visitas a fim de evitar possíveis riscos. Pode ser igualmente importante estabelecer contactos com amigos ou familiares que possam, por exemplo, ir às compras ou à farmácia, de modo a que se diminua o número de saídas de casa.
  • Para além dos riscos associados à doença, as mudanças nas rotinas criam desafios para quem cuida ou vive com uma pessoa com Demência. Geralmente, as pessoas com esta doença são muito sensíveis a mudanças nas suas rotinas, e alterações às mesmas podem deixá-las agitadas. É importante falar com a pessoa, explicar o que está a acontecer e validar as suas preocupações e emoções.

O que fazer em isolamento social e/ou em quarentena?

  • Ajude a pessoa com Demência a estabelecer uma rotina diária estruturada para ocupar o seu tempo e envolve-a na execução de algumas tarefas domésticas simples, como ajudar na cozinha na preparação de uma refeição ou pôr água nas plantas da casa;
  • Realize atividades diurnas que envolvam alguma mobilidade a fim de ajudar a melhorar a qualidade de sono à noite da pessoa com Demência e prevenir quedas no domicílio, como exercícios físicos simples e jardinagem;
  • Realize atividades em casa que a pessoa costuma gostar, de modo a reduzir a ansiedade associada à menor realização de atividades no exterior. Incentive a pessoa a envolver-se em atividades como ler um livro em conjunto, ver álbuns de fotografias para estimular a partilha de histórias, pintar, ouvir o álbum de música favorito dela, ver um filme e jogar (por exemplo, puzzles, dominó e jogo de damas).
    Incentive a pessoa a falar com membros da família ou amigos distantes por telefone ou videochamada;
  • Evite expor a pessoa com Demência à visualização de informações sobre a pandemia durante muito tempo de forma a não sobrecarregá-la com este tema. A visualização das notícias uma ou duas vezes por dia é suficiente;
  • Utilize jornais on-line para orientar a pessoa para a data e a altura do ano.
  • Por fim, o cuidador deve lembrar-se de cuidar de si mesmo, descansar e fazer algo de que goste. O surto do COVID-19 está a criar mudanças difíceis para todos, mas, pela sua saúde e da pessoa com Demência, é importante que siga as recomendações provenientes de instituições oficiais e se mantenha positivo e esperançoso a fim de continuar a apoiar a si mesmo e à pessoa que está a cuidar.

Teresa Castanho

Investigadora na área do Envelhecimento Cognitivo e Demências da Escola de Medicina da Universidade do Minho