Reconciliei-me ontem com a Feira Internacional de Arte, ARCO 2024, a decorrer na Cordoaria Nacional em Lisboa, pois das três primeiras edições do evento a que fui tinha achado que esta era predominantemente constituída por galerias estrangeiras, que mostravam uma arte muito experimental, ou seja, usando e abusando das fotografias, umas trabalhadas e outras não, por várias instalações, e pela utilização de novos e suportes físicos para pintar e esculpir.
Pelas razões aduzidas normalmente ia à feira alternativa a esta, que se desenrolava nas instalações da Carris ou na antiga FIL, locais próximos da cordoaria, cujas galerias também apresentavam artistas contemporâneos, mais clássicos na escolha dos suportes, maioritariamente em tela e papel.
A ARCO deste ano está maior, com mais galerias, predominantemente com galerias portuguesas e espanholas, embora com galerias interessantes vindas sobretudo de França com muitos artistas da África Francófona, e galerias dos países africanos francófonos, algo interessante, pois implicitamente reconhecem que Portugal é uma terra que é, e sempre foi uma um ponto de encontro de culturas, um “melting pot” cultural, onde a cultura e as artes se miscigenaram de uma forma natural.
As galerias portuguesas presentes apresentaram os seus melhores artistas contemporâneos nacionais, e também africanos muito em especial angolanos, que têm descoberto e dado projeção internacional, e que graças a esse trabalho são bem cotados no mercado de arte internacional, provando que neste domínio Portugal é uma plataforma giratória entre a África Lusófona e a Europa, o ponto de entrada dos artistas lusófonos na União Europeia.
Este ano não havia muitas galerias do Continente Americano, e muito em especial dos EUA, o que é uma pena pois Nova York é o centro atual da arte global, que em edições passadas pontuavam a Feira, talvez por acharem que apesar de tudo não vale a pena investir em Lisboa, e trazer os melhores artistas Internacionais à escala global, que normalmente representam.
O grande número de galerias nacionais, demonstra a pujança do mercado nacional, que cresceu principalmente com a grande quantidade de estrangeiros que por cá tem investido em imobiliário, e os que para cá têm vindo passar a sua terceira idade, dois grupos de pessoas que normalmente compram para investir e simultaneamente decorar as suas casas.
Esperemos que a ARCO continue a ter uma edição em Lisboa, na que a outra feira alternativa parece ter acabado, a outra razão de haver mais galerias portuguesas nesta feira, e que não aconteça com ela o que aconteceu com outros eventos internacionais, como o CSIO de Lisboa e o Longines Tour, que por cá deixaram de se realizar.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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