Estive em Angola durante a guerra civil, em 1995, e presenciei o que era a governação de José Eduardo dos Santos, conhecido pelos militares e pelo povo como o governo de Zedu e os quarenta ladrões. A imagem do Chefe do Estado era a imagem de alguém distante que vivia no Futungo de Belas, servindo-se do seu povo.
Angola, durante o seu prolongado mandato era um país pobre, em que a miséria levava a população feminina a prostituir-se junto dos cooperantes e homens de negócios estrangeiros. Eram dezenas, centenas de miúdas com catorze anos ou menos, que se ofereciam pelas ruas em troca de uma gasosa, um jantar, uma dormida num hotel, enfim, o que quer que fosse. Era um país miserável moralmente e não só. Bandos de miúdos esgravatavam no lixo e pediam pelas ruas, miúdos esses que hoje continuam sem emprego e sem futuro.
A nós cooperantes militares, pediam-nos coisas estranhas tais como ajudá-los a planear uma operação logística de transporte para colocar os migrantes rurais angolanos nas suas terras de origem, por forma a retirá-los da capital à força, ou nalguns casos na instrução de comandos, que eles planeassem e comandassem algumas operações, justificadas como “on the job training” mas que, em minha opinião, ultrapassavam em muito a sua missão, havendo no entanto, quem por vezes a ultrapassasse, pois a nossa carta de missão era inexistente e baseava-se no bom-senso que deveríamos ter, algo muito lato e muito amador da nossa parte.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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