Estive esta semana a reler o livro, ” Amor em tempos de cólera”’ de Gabriel Garcia Marques, escritor que considero ser o maior vulto das letras do século XX, uma vez que estamos a atravessar um período de emergência sanitária, devido ao Covid-19, propício à leitura e à reflexão, dada a obrigatoriedade a que estamos sujeitos de isolamento em casa.
A História do livro passa-se no final do século XIX dealbar do século XX, durante um período de cerca de 55 anos, período que durou a história de amor, entre os dois protagonistas do romance.
A história do livro é interessante pois durante o período em que decorre essa paixão, os surtos de cólera são uma ameaça constante, que dizima milhares de pessoas, cujos corpos se vão amontoado nas ruas, pelas valetas, e que vão sendo recolhidos diariamente em grandes pilhas, qual lixo doméstico, para que o tráfico se pudesse processar e a vida do dia-a-dia pudesse proseguir. A população na cidade habituava-se a circular entre os corpos, socorrendo-se dos seus lenços de assoar, para expeditamente se proteger da doença e concomitantemente dissimular o fétido cheiro dos cadáveres em putrefacção.
Eram tempos de extraordinária dureza e que punham à prova a resiliência do povo, que se via perante uma situação em que a cólera era o novo-normal.
Não querendo contar a história de amor do livro, apraz-me revelar que no seu epílogo, ao fim de cerca de meio século de amor não consumado, os dois amantes finalmente se encontram e tiram partido da doença, para fazerem uma viagem romântica, sózinhos num barco de passageiros, pelo facto de o seu comandante o ter falsamente sinalizado com a bandeira amarelo e preta, que sinalizava que no seu interior grassava um surto de cólera.
Este livro faz-nos pensar na dureza da vida no passado, das doenças sem cura que assolavam a população,, e da resiliência desta à adversidade prolongada,.
A consumação da história de amor ao fim de cinquenta anos, traz-nos uma luz de esperança reafirmando-nos a certeza de que malgradas as doenças e vicissitudes a vida continua.
Parece-me que a mensagem do livro, sublimemente escrito por Gabriel Garcia Marquez é, nesta ocasião em que a pandemia do Covid-19 ataca, uma mensagem de esperança num futuro melhor.
Esperemos bem que o surto deste vírus seja rápido, e que na próxima Primavera seja descoberta uma vacina salvífica, para que este não volte a surpreender-nos anualmente.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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