Coloca-se os alimentos frios, fecha-se a porta, carrega-se no botão e em menos de dois minutos o almoço está quente e pronto a ser servido. O forno de micro-ondas é um eletrodoméstico prático, que aquece os alimentos emitindo ondas que fazem vibrar as moléculas de água, produzindo assim calor. Mas há teorias que dizem que este aparelho pode fazer mal à saúde, causando cancro. Será que há algum teor de verdade nisso?
Micro-ondas, um eletrodoméstico com 70 anos
O primeiro micro-ondas tinha 1,8 metros de altura e foi construído pela empresa norte-americana Raytheon em 1947, há 70 anos. Mas só na década de 1960 é que este aparelho se tornou viável, tanto em termos económicos como de tamanho, para fazer parte das cozinhas das famílias.
Desde então, o seu consumo cresceu. No início deste século, 33% das famílias portuguesas tinham micro-ondas, segundo um relatório de 2014 do Instituto Nacional de Estatística. Dez anos depois, a percentagem já era de 83%. Por ser tão comum, é especialmente importante conhecer os perigos que podem existir no uso deste aparelho. Para isso, ajuda compreender como é que o micro-ondas aquece os alimentos. Este aparelho emite ondas eletromagnéticas chamadas micro-ondas.
Estas ondas situam-se entre as ondas de rádio e os infravermelhos no espetro eletromagnético, onde se insere a luz visível. São ondas muito menos energéticas do que os raios ultravioletas e os raios-X, que também compõem o espetro eletromagnético. No micro-ondas, estas ondas são absorvidas pelas moléculas de água, de gorduras e algumas outras moléculas que compõem os alimentos.
Ao absorver esta energia, as moléculas de água começam a vibrar e a produzir calor. É este calor que, depois, vai aquecer o resto do alimento. Assim, o aquecimento ocorre dentro dos próprios alimentos e não no ar à volta. Isto acelera o processo de aquecimento, fazendo com que os alimentos aqueçam em poucos minutos.
Radiação perigosa?
Sim, as micro-ondas podem ser perigosas porque podem queimar os tecidos se alguém estiver exposto diretamente a elas com o nível de intensidade produzido pelo eletrodoméstico. Tal como os alimentos, também os humanos e os outros animais têm moléculas de água que produzem calor quando são submetidos às micro-ondas.
É por isso que estes aparelhos estão construídos para garantir que a grande maioria da radiação não saia para o exterior. Por isso, se o aparelho estiver a funcionar normalmente, não há problema. No entanto, estas ondas não originam problemas de radioatividade nem deixam os alimentos radioativos, não representando por isso risco conhecido para a saúde. Isto porque não são suficientemente energéticas.
Há ainda quem advogue que a radiação dos micro-ondas altera quimicamente os componentes dos alimentos, tornando-os carcinogénicos. Os componentes carcinogénicos podem provocar o aparecimento de um cancro quando interagem com as células. Em geral, os estudos científicos não confirmaram este receio. Mas um estudo publicado em março de 2017 por uma equipa de investigadores polacos detetou a produção de acrilamida quando se aquecia croquetes pré-fabricados no micro-ondas.
A acrilamida foi associada a um risco maior de cancro em roedores, segundo o Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos. Nos humanos este risco não foi confirmado. Mas a equipa da Polónia sugere evitar aquecerem-se alimentos ricos em hidratos de carbono no micro-ondas.
Em suma
A radiação do micro-ondas pode causar queimaduras quando se está em contacto direto com ela. Mas nunca se demonstrou que o uso do micro-ondas aumenta o risco de cancro pela exposição às ondas.
Fonte: Pedro Almeida, Físico da Unidade de Medicina Nuclear do Hospital Lusíadas Lisboa
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