Portugal, com exceção de alguns períodos da nossa história, em que expulsámos os judeus, tem sido um país de acolhimento de refugiados, mesmo no período do Estado-novo, aquando da ll Guerra Mundial, tendo por essa altura recebido e acolhido, inclusive os judeus que receberam os vistos, alegadamente passados à revelia das autoridades portuguesas, pelo Cônsul Aristides Sousa Mendes.
Nesse período, dada a neutralidade portuguesa na II Guerra Mundial, Portugal foi o país escolhido para o refúgio da maior parte da aristocracia Europeia, e de alguma burguesia endinheirada que habitava na zona do Estoril, bem como de Judeus pobres e de outros europeus fugidos da guerra, que aqui rumavam, na esperança de embarcar para os EUA, Judeus esses, que habitavam nas zonas mais pobres da capital.
A memória deixada pelos primeiros, ainda hoje se nota na região do Estoril, nos palacetes e nas fachadas das faustosas casas que habitavam, e na memória das já escassas pessoas que com eles conviveram, fazem atualmente e indelevelmente parte do nosso património histórico material e imaterial.
Das estadas destes refugiados de luxo e dos espiões que por aqui transitavam, em busca de informações, nos vários hotéis da região, dos quais destaco o Palace, restam infelizmente, já poucas memórias.
Há uns anos atrás costumava alojar as comitivas estrangeiras das Euroforças, que coordenava a nível nacional, no velho Hotel Atlântico, sito na marginal entre o Estoril e Cascais, hoje infelizmente transformado em residências de luxo, hotel esse que mantinha a decoração, embora “démodé” e cheia da inexorável “patine” do tempo, ainda dos idos anos quarenta do século passado, bem como, perto da receção, ainda expunha, nas antiquadas vitrinas, as fotos dos seus mais célebres clientes, nas festas e receções nele dadas, que espero não tenham desaparecido com a sua transformação.
Todas estas memórias, todo esse património histórico material e imaterial da humanidade, tem que ser preservado e publicitado, pois ele para além de fazer parte da nossa história, define-nos identitariamente como povo acolhedor, pacífico, tolerante, e virado para o mar do passado perspetivando, o futuro.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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