Geral Opinião

A tirania da mediocridade: O regresso do homem massa

O pensamento de Ortega y Gasset sobre o homem massa continua a ser perturbadoramente atual. O homem massa, medíocre, está a destruir os fundamentos da economia liberal e a regredir para os nacionalismos, tal como aconteceu no século XX.

A mediocridade não reconhece o mérito tal como definido por Ortega e não entende que, para se pertencer às elites, é preciso esforço, disciplina e responsabilidade. Mas não é isso que acontece com o homem massa, hoje manipulado por discursos populistas e nacionalistas, numa espécie de guerra do “povo” contra as elites. Como se alguém pudesse legitimamente falar em nome de uma entidade abstrata “o povo” quando, na verdade, apenas projeta a sua própria mediocridade.

Estas duas classes — elites e massas — são, neste contexto, uma reinterpretação do marxismo. Só que, desta vez, as classes não são económicas, mas culturais e sociais, como em Max Weber. Falo aqui de elites no sentido weberiano: não dos privilegiados de nascença, mas daqueles que se distinguem pelo mérito, pelo saber, pelo esforço tudo o que escapa à áurea mediocritas, esse conforto da mediocridade aceite.

Mas a áurea mediocritas passou agora a reclamar, como esperança vã, o acesso ao poder. E fá-lo sem se sujeitar à exigência do mérito, e é assim que a mediocridade, travestida de maioria, ameaça subverter a ordem civilizacional.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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