O pai do ditador deposto na Síria Assad, pertencia ao Partido Baath, que foi fundado em 1944 por intelectuais sírios. No vizinho Iraque, o mesmo partido viria também a estabelecer-se em 1948, e Saddam Hussein a ele se juntou em 1957, tendo-o levado ao poder.
O Partido Baath nas suas bases programáticas, designadas por Baathismo, basava a sua ideologia no nacionalismo árabe, no pan-arabismo, no socialismo árabe e no anti-imperialismo. Esta ideologia comum entre os dois países vizinhos, vigorou durante anos em ambos até à queda de Saddam no Iraque, e até ontem, dia 7 de dezembro na Síria.
Os regimes autocráticos, instalados nos dois estados vizinhos, muito embora os seus dirigentes fossem de diferentes fações do Islamismo, Saddam era oriundo duma tribo sunita e Assad alauita xiita, entendiam-se perfeitamente, porque a ideologia do partido Baath não era confessional, nem se apoiava no tribalismo, algo relevante pois nos países que governavam, multiétnicos, multiculturais e multirreligiosos, pois era e evidente que essas Identidades eram contrárias à constituição e à unidade do Estado moderno, que queriam construir.
Para conseguirem que o Estado se sobrepusesse ao tribalismo e à religião, ambos os ditadores tiveram que instaurar regimes autocráticos, onde curiosamente havia liberdade de culto e as minorias étnicas podiam ascender ao poder.
Durante muitos anos, os dois estados vizinhos tiveram um grande desenvolvimento, pois um dos pilares que privilegiaram nas suas governações foi a educação, e o desenvolvimento de academias, que curiosamente ministravam o ensino na língua Inglesa, e em que os seus mais prestigiados professores eram recrutados no Ocidente, pois ambos os ditadores, o pai de Assad e Saddam, achavam que só a educação poderia modificar as identidades dos seus povos, que se baseavam e baseiam, na família, na tribo, na religião e só por último no Estado, conceção exporia às suas sociedades, e que as duas ditaduras tentaram à força impor.
Tanto no Iraque pós-invasão americana, como ora na Síria a deposição dos regimes ideologicamente não confessionais, veio no primeiro caso a provocar tensões étnicas e religiosas que levaram à criação do Estado Islâmico, numa região de fronteira entre o Iraque e a Síria, onde as tribos Sunitas se aliaram para o constituir, tendo sido derrotadas, pelo Ocidente com o apoio militar dos curdos.
Estas tribos sunitas que num determinado momento constituíram o Estado Islâmico, e aterrorizaram o mundo Ocidental, tiveram na base da sua constituição vários dissidentes da Al Qaeda, sendo que o agora principal protagonista desta revolução era, curiosamente, um destacado terrorista do Al Qaeda.
Estou sinceramente convencido que a Síria ficará ingovernável, e provavelmente mais perigosa, para o Ocidente pois pode eventualmente vir a tornar-se num novo Afeganistão, ou entrará numa profunda guerra civil, à semelhança da Líbia.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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