A União Europeia que é um gigante económico, mas tem tido alguma dificuldade em se afirmar politicamente, dado que é uma Organização Intergovernamental e não uma federação de estados, constrangida pela ameaça da Rússia e simultaneamente a ameaça dos EUA, vai ter que se transformar, para fazer face a este duplo envolvimento.
Tanto Putin como Trump comungam ideologias muito parecidas de extrema-direita, e ambos em termos de Relações Internacionais, seguem o Realismo, anárquico, pois desprezam todo o tipo de Organizações Multilaterais, que não percebem, e privilegiam as relações bilaterais, onde podem impor mais facilmente a sua vontade, a sua força, para se expandirem para outros territórios, e ambos procuram gerar novos tipos de equilíbrios geoestratégicos.
A estratégia, a possibilidade de coagir pela força e as relações de acomodação, são as suas ferramentas preferidas para impor a sua vontade, ao invés das relações de cooperação, conforme Putin referiu esta semana numa entrevista no carro, referindo-se à UE, dizendo que mais tarde ou mais cedo, esta haveria de acomodar-se à vontade de Trump, com quem sabemos, por ambas as partes, que já estão havendo conversações de paz, para resolverem o problema da Ucrânia, sem a presença do pedinte Zelensky, como Trump recentemente o apelidou, tendo para o obrigar a aceitar as suas condições unilaterais, congelado por 90 dias o apoio dos EUA ao esforço de guerra Ucraniano.
Como já me tenho referido em crónicas anteriores, prevejo que a Ucrânia venha a ser dividida pelo Dnipro, ou seja, no final ficará uma zona de tampão para a Rússia, e uma zona tampão para o Ocidente, nomeadamente para a Polónia, país a quem Putin já referiu recentemente que ter também direitos históricos sobre a parte Ocidental Ucraniana, pois Putin quer acabar com qualquer resquício da Ucrânia, pretendendo mesmo riscá-la do mapa.
O que restar da Ucrânia certamente entrará na UE, no próximo alargamento da mesma, mesmo sem cumprir os critérios de Copenhaga, pois politicamente o que restar da Ucrânia precisa de ser apoiado, dado que a UE, ao contrário da Rússia, e destes novos EUA, a caminho duma democracia iliberal, autoritária, que parece quererem anexar a Gronelândia, a UE também quer alargar território, sem recorrer ao Hard Power, ou seja, através do seu poder de atratividade, o seu Soft Power, onde vários Estados do ex-pacto de Varsóvia, querem entrar, bem como a Turquia, que em minha opinião seria uma grande mais valia estratégica para a Organização, caso finalmente nela conseguisse entrar.
O que será a UE no futuro e como vai ser governada, é uma pergunta de 1 milhão de euros, mas provavelmente arranjar-se-á uma solução híbrida fora da caixa, em que as Instituições europeias reforcem o seu poder, em relação aos Estados-membros.
A solução parece-me encaminhar-se no sentido de se criarem internamente mais mecanismos de integração, tipo Shengen, Eurozone, a que alguns estados membros voluntariamente queiram aceder, ou seja, na prática criar uma Europa com diferentes dinâmicas de integração a duas, três ou quatro velocidades.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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