Opinião

A propósito das palavras do Bispo Dom Manuel Linda

As Identidades, sentido de pertença a uma comunidade, muitas vezes forjam-se com a assumpção de um inimigo comum.

O inimigo comum da Europa durante séculos foram os Islâmicos, e o inverso também é verdadeiro, daí que as palavras do Bispo do Porto Dom Manuel Linda, com excepção da assumpção unilateral de culpas, por parte dos Europeus, porque as há dos dois lados, é verdadeira e importante. O diálogo inter- religioso é uma necessidade premente, que muito pode contribuir para a resolução de conflitos pela via diplomática.

O diálogo inter-religioso tem sido uma preocupação dos últimos Papas, inclusive dos mais conservadores, que em vários encontros, nesse sentido têm promovido em Assis, com a presença dos mais altos representantes de todas as religiões.

As três religiões monoteístas têm uma base comum, o antigo Testamento. Como dizia a brincar um professor no meu Curso de Estado Maior, com alguma piada, o primeiro volume é o mesmo, os evangelhos são o primeiro volume das notas complementares e o Corão o segundo.

Deus é o mesmo, donde há e têm de ser desenvolvidos esforços no caminho da paz, que passam pela tentativa de encontrar e valorizar o que é comum, e não o que é diferente, pois só assim haverá, um terreno comum, uma plataforma de entendimento.

Não quero com isto afirmar que tenhamos que abdicar da nossa fé, dos nossos dogmas, das nossas diferenças, mas sim de valorizar o que temos em comum.

Se é verdade o que Bento XVI referiu a propósito do Islão, em Assis que, este era uma religião violenta desde o início e, que se tinha implantado e expandido pela força e pela espada, facto histórico que provocou uma alguma tensão no Islão, sem necessidade, também é verdade que a reação Europeia, a reconquista Cristã e as cruzadas que se lhe seguiram até ao estabelecimento dum estado cristão em Jerusalém, não foi menos violenta pelo que em minha opinião é altura de se enterrar o passado e repensar as bases dum novo relacionamento.

É interessante constatar que Omar, o General, o militar, amigo e conselheiro do profeta Maomé, foi devido à força da espada, um dos dois sucessores do profeta após a sua morte e o fundador do Sunismo.

Os árabes aproveitaram a queda do Império Romano e a consequente ausência de poder, para se expandir, pois como sabemos da história, a estratégia é inimiga do vazio, para os anteriores territórios conquistados pelos romanos, tendo estes mais tarde sido integrados no Grande Califado dos Abássidas, com sede em Bagdade e espalhado por todo o Norte de África e Península Ibérica designada por Al Andaluz, tendo com esta expansão trazido a sua religião dominante.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva