Portugal desde que consolidou as suas fronteiras terrestres, iniciou imediatamente a sua expansão, quer para o Norte de África, a caminho dos Algarves de além-mar, quer na descoberta do caminho marítimo para a Índia, ou seja, desde o final da crise de 1383-85, até há cerca de cinquenta anos atrás que descobrimos territórios, estabelecemos relações comerciais, extraímos deles riquezas, ocupámo-los, ou seja, alargámos substancialmente o nosso território e construímos um Império.
A estratégia nacional e os interesses nacionais, embora pudessem não estar escritos num conceito como ora o fazemos, basearam-se sempre na nossa projeção de poder para o exterior, inicialmente com fins mais comerciais, tendo passado paulatinamente para a posse dos territórios que fomos descobrindo, desbravando e conquistando.
Para manter a todo o custo o Império que fomos construindo ao longo de séculos, travámos guerras com potências estrangeiras, entrámos em guerras na Europa, enfim, tudo fizemos para manter o nosso suado e cobiçado Império.
A última guerra que travámos contra os movimentos pró-independentistas dos territórios africanos foi uma guerra dura, que marcou gerações de portugueses e, que durou cerca de catorze anos, tendo estes travado mais esta guerra, como todas as anteriores, na consecução dos objetivos políticos e estratégicos definidos pelos políticos e pelo Estado Português , na altura o Estado Novo.
Com a descolonização, Portugal terminou a sua última e sangrenta guerra, que embora não a tendo perdido em termos militares, perdeu-a na prática, pois o regime politicamente saído do 25 de Abril de 1974, entregou de bandeja os seus anteriores territórios aos movimentos que
lutaram pela autodeterminação dos respetivos territórios africanos, e indiretamente, à Rússia que os apoiava.
A semana passada faleceu com Covid-19 e, foi enterrado esta semana, um dos mais destacados combatentes desta última guerra que travámos em África, o Tenente-Coronel Marcelino da Mata, o oficial mais condecorado das Forças Armadas, tendo paradoxalmente a sua morte sido praticamente ignorada pela comunicação social, muito embora no seu funeral tenha estado presente o Presidente da República e as mais altas entidades militares e muitos ex-combatentes.
Por muito que hoje, politicamente, discordemos da política do Estado Novo, Marcelino da Mata foi um mito e um herói nacional, que serviu Portugal, merecendo como tal ter sido tratado na hora da sua morte.
Termino citando Fernando Pessoa, num trecho do extraordinário poema “O menino de sua mãe”…
“Malhas que o Império tece/jaz morto e arrefece o menino de sua mãe” …
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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