Há cerca de duas semanas fui aos pavilhões da Mitra, para ver a extraordinária exposição dos cinquenta anos de carreira do artista plástico Pedro Cabrita Reis, que fez nesse grande espaço, abandonado há anos, uma extraordinária retrospectiva da sua carreira.
Lembrava-me vagamente de ter ouvido, na minha juventude, falar da Mitra, e no meu inconsciente, recordava-me que a sua função estava relacionada com uma espécie de prisão, mas na altura não fui investigar, pois contentei-me com a minha ignorância relativamente ao assunto, dado que o que me levou a visitar o local nada tinha que ver com a anterior função do edificado.
A semana passada no Expresso, talvez devido à exposição, saiu um grande artigo lembrando o passado, não muito distante, da instituição que se servia do espaço da Mitra, para institucionalizar os “sem-abrigo” do passado, fardando-os, alimentando-os e condicionando-lhes a liberdade, só pelo facto de serem pobres, algo que me pareceu violento, pois à luz dos nossos dias a liberdade é um direito inalienável, que não deve ser coarctado a ninguém, só pelo facto de alguém ser pobre.
Mais uma vez estava a condenar a história à luz da atualidade, anacronicamente e sem refletir. Passados uns instantes, caí em mim e repensei o assunto, e este facto já não me pareceu tão violento, pois a solução atual para os “sem-abrigo” não me parece melhor, pois nem sequer existe, dado que a sociedade dos nossos dias, faz por os ignorar, fazendo vista-grossa à miséria humana e à falta de condições mínimas de vida, em que estes vivem, o que me levou a formular a pergunta com que acabo esta crónica e que deixo ao critério dos meus leitores.
Será que hoje tratamos melhor os nossos pobres do que no passado ?
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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