Geral Opinião

A minha perceção do mundo multipolar

Foto: El Mundo

A guerra é a continuação da política por outros meios, e tem como objetivo alcançar uma vantagem para se voltar à mesa das negociações numa posição de superioridade.

Esta frase de Clausewitz nunca foi tão importante, neste período da História que estamos a atravessar.

A negociação é sempre um processo que começa com posições de força das duas partes em conflito.

No caso da Ucrânia para haver paz é necessário que os EUA, e a China se empenhem para almejar a paz, ou seja, é necessário que as duas potências dominantes, os EUA e China, patrocinem e se reunam “a priori”, e envidem esforços para alcançar a paz.

Parece simples, mas neste mundo multipolar desde 2017, com várias potências regionais, embora os EUA continuem a ser a maior potência militar, e a China, com mais população e território, e uma economia florescente, pois ainda é a fábrica do mundo, sejam as potências dominantes com mais poder relativo, pois o poder não se baseia exclusivamente no Potencial Militar.

Num mundo multipolar com várias potências regionais, há sempre uma disputa enorme entre elas, uma grande competição,  que pode escalar, e subitamente evoluir para uma crise, ou mesmo para um conflito armado, para alcançarem uma posição de supremacia regional, independentemente da vontade das duas potências dominantes, ou sela dos EUA e da China que, por sua vez também estão numa competição estratégica, neste caso para se tornarem as duas potências globais, em todos os domínios das estratégias gerais, estatuto que só adquirirão, se se aliarem a algumas das diversas potências regionais, e se as  impedirem que também possam disputar esse estatuto.

Esta é em meu entender, a explicação que encontro para o que se passa em Israel, uma potência regional no Médio-Oriente  que disputa o poder na região com o Irão, a Turquia e a Arábia Saudita, independentemente da vontade da potência militar dominante, os EUA, que desde há anos tem apoiado Israel, numa aliança que se assemelha mais a um protetorado.

No caso da Rússia em guerra com a Ucrânia, o caso parece-me semelhante, pois a Rússia, que desde o fim da guerra-fria, baixou ao estatuto de potência regional na Europa, dado que ainda possui em termos militares uma enorme supremacia em relação à sua vizinha União Europeia, está tentando, mesmo que ainda muito fragilizada economicamente, disputar o poder com a União Europeia, a outra potência regional na Europa  em termos económicos, inicialmente confiante que nem ela, nem os EUA seu tradicional aliado, interviessem no conflito, a exemplo do sucedido aquando da tomada da Crimeia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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