Quando começaram as primeiras sanções após a invasão da Ucrânia, muitos analistas ocidentais vaticinaram um colapso rápido da economia russa. As previsões apontavam para um país encurralado, incapaz de financiar o esforço de guerra e condenado à estagnação. A realidade, porém, mostrou-se bem mais complexa.
A Rússia não só resistiu, como conseguiu reinventar os seus canais de exportação. O petróleo e o gás, outrora dirigidos sobretudo para a Europa, fluem agora em direção à Ásia com a China, a Índia e a Turquia a assumirem o papel de principais compradores. É esse comércio energético que continua a dar oxigénio ao orçamento de Moscovo, sustentando a máquina militar e assegurando algum equilíbrio interno.
Os números falam por si. Apesar da guerra e do isolamento imposto pelas sanções, a Rússia continua a apresentar crescimento do PIB, ainda que mais modesto em 2025 (1,4 a 1,5%) do que nos anos anteriores. Mais surpreendente é o retrato de duas décadas: no seio do G20, apenas a China registou um crescimento per capita superior ao russo entre 2000 e 2024. Naturalmente, partir de uma base muito baixa torna os saltos percentuais mais vistosos. Mas o facto permanece: em contraste com o ritmo lento das economias ocidentais, a trajetória russa impressiona pela dimensão.
Esta resiliência não significa prosperidade. A inflação continua perto dos 9%, os juros em 18% sufocam o investimento e o consumo, e o défice orçamental cresce à custa de cortes em setores civis essenciais, como a saúde e a educação. É uma economia de guerra, desequilibrada, dependente de um punhado de setores, mas ainda assim viva.
O que parecia impossível tornou-se evidente: a Rússia não colapsou. Pelo contrário, adaptou-se. Continua a vender energia, continua a financiar a guerra e mantém-se, contra todas as previsões iniciais, como uma das economias mais dinâmicas do G20 em termos de crescimento acumulado. Uma lição amarga para quem acreditou que as sanções, por si só, seriam suficientes para dobrar Moscovo.
Qualquer novo pacote de sanções ocidentais terá, por isso, de ser muito bem articulado para provocar efeitos palpáveis. E mesmo assim, o desafio é enorme: integrada nos BRICS e na Organização para a Cooperação de Xangai, a Rússia está longe de estar isolada. Esses blocos oferecem-lhe canais alternativos de comércio e cooperação, assegurando que continuará a exportar as suas commodities e a sobreviver às pressões externas.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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