Geral Opinião

A Independência de Timor

Guterres está em Timor para comemorar a independência do país, tendo no discurso que proferiu referido que, no contexto geopolítico atual esta nunca teria ocorrido, pois o direito internacional de que a ONU é a Instituição Multilateral que é a expressão máxima do liberalismo, sucumbiu ao realismo da política, em que os Estados e as suas relações entre si voltaram a ser os atores políticos mais relevantes na Política Internacional.

O caso da Independência de Timor deu-se numa altura em que os EUA eram a única superpotência global, em que a União Soviética se tinha desagregado a Rússia estava num período de travessia do deserto e a China ainda era uma potência em ascensão, ou seja, num período onde foi possível arranjar alguns consensos no Conselho de Segurança da ONU para a solução de algumas crises internacionais.

Os dois secretários gerais da ONU que dirigiram a Instituição nesse período, Boutros Ghali e posteriormente Kofi Annan, foram marcantes, tendo conseguido que se tomassem decisões importantes no sentido de alcançar algumas soluções pacificadoras,.

Boutros Ghali conseguiu desenvolver na organização conceitos doutrinários importantes que estão na base das centenas Operações de Paz, que desde o fim da guerra-fria foram efetuadas, algumas com sucesso e Kofi Annan que lhe sucedeu continuou o caminho do seu antecessor, tendo sido durante o seu mandato que se conseguiu a Independência de Timor.

O mundo mudou, os EUA deixaram de ser a única superpotência, o polícia do mundo, perderam poder relativo, embora ainda sejam a potência dominante aglutinada do mundo Ocidental alargado ao Japão, Nova Zelândia, Coreia do Norte, Israel e Europa, de quem precisam para compensar alguma perda de poder relativamente à China e à Rússia, que entretanto se levantou e ambiciona recuperar o poder da URSS, bem como surgiram várias potências regionais, que tentam litigar-se entre si para ganhar poder, potências essas que embora alinhadas com algumas das três potências que referi, a elas nāo se submetem totalmente, não se acomodam totalmente, pois querem ter uma voz própria, e querem dominar as regiões em que se inserem. Ou individualmente ou em Uniões políticas multilaterais, que entretanto fora-se consolidando.

As tensões e lutas pelo poder tornaram o mundo mais instável, com grandes tensões geopolíticas, que se assemelham às tensões vividas na Europa em séculos passados, em que todas as potências lutavam entre si pela supremacia, ou seja, pelo poder.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma