Na semana passada, mil trabalhadores da empresa tecnológica Altice viram as suas vidas viradas do avesso. Os seus postos de trabalho foram extintos, substituídos por sistemas de Inteligência Artificial. Foi o primeiro despedimento em massa na Europa motivado exclusivamente pela automação inteligente, e dificilmente será o último.
Falei, em Bruxelas, com uma sindicalista da UGT de Espanha, que exerce funções de coordenação no Comité Europeu de Coordenação Social. A sua preocupação é a mesma que qualquer cidadão atento deveria ter: se não forem tomadas medidas agora, as próximas vagas de despedimentos poderão ser ainda mais violentas.
Entre as soluções que propõe, destaca-se uma que merece debate imediato: compensar fiscalmente as empresas que optem por manter os seus trabalhadores, isentando-as de grande parte dos impostos. Seria uma forma de premiar quem resiste à tentação do corte rápido de custos à custa da dignidade humana. Mas a proposta não se fica por aí. Defende também que os Estados estabeleçam pré-condições obrigatórias para a instalação de grandes empresas, garantindo desde o início que estas assumem compromissos claros com a manutenção do emprego.
O problema vai muito além do drama individual de cada despedimento. O que está em causa é o futuro das nossas sociedades. Com menos trabalhadores no ativo, a base de financiamento das Segurança Sociais ficará fragilizada. Menos contribuições significam menos recursos para pensões, subsídios e serviços públicos um cenário que ameaça tanto a nível estatal como europeu.
A revolução tecnológica é imparável. A questão é se teremos coragem política e visão estratégica para a conduzir de forma justa, equilibrada e humana. A Inteligência Artificial pode ser uma ferramenta extraordinária para o progresso, mas só se soubermos impedir que ela se transforme numa máquina de exclusão social.
O tempo para decidir é agora. O futuro do trabalho e da coesão social não se constrói quando já é tarde demais.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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