Sou algarvio e assisti a todo o desabrochar do Turismo na minha região de origem.
Lembro-me perfeitamente que uma das âncoras de desenvolvimento de Vilamoura foi a instrução da sua Marina, e de como todo o “resort” turístico nasceu, bem projectado e planeado, em contraponto com a então desordenada e caótica Quarteira, que quis copiar o gasto modelo de Torremolinos e de outras cidades congéneres no sul de Espanha.
Conheço a Ericeira e a praia de pescadores desde o tempo do meu tirocínio de Infantaria , há cerca de três décadas, vi crescer paulatinamente toda a terra e sua envolvente, de a forma que me pareceu mais ordenada que Quarteira. No entanto observando o edificado da Costa para Terra, começo a ter dúvidas que o seja, pois todo o anfiteatro que se vê sobranceiro ao mar está a ficar denso, desordenado e caótico, começando infelizmente a parecer-se com uma favela brasileira para classe média-alta.
O projeto do porto de pesca e para embarcações turísticas, que está nascer na praia dos pescadores, a praia com mais significado do ponto de vista histórico da Ericeira , por ter sido dali que os nossos últimos reis embarcaram para o exílio, parece-me desmesurado para os cerca de 30 navios de pesca, que nas últimas semanas tenho invariavelmente no
local contado, pois verifiquei ao analisar o projeto “on Line” na internet, que este renovado porto se destinará a cerca de cento e cinco navios, com capacidade nos topos de cada amarração, para poder atracar três navios com um calado de cerca de vinte metros.
O projeto em questão refere que o custo final da obra rondará os cerca de 18 milhões de Euros, e que para além da construção dum novo pontão, irão ser construídos alguns edifícios no ora areal da praia e que, como resultado das dragagens que inexoravelmente irão ser realizadas uma nova praia nascerá artificialmente a sul.
Tenho receio de que este novo e renovado porto venha a servir para descaracterizar o centro histórico da terra, que malgrado toda a sua desordenada envolvente, se mantinha como uma recordação duma das praias mais emblemáticas do século XIX e XX.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria ba Reserva
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