A invasão da Ucrânia expôs a ingenuidade estratégica de muitos intervenientes que subestimaram o despertar da Rússia, ignorando que a geografia e a história moldam a política e a estratégia. A Rússia dispõe de vastos recursos, território e instituições de ensino que permitem decisões de longo prazo, algo que o Ocidente, limitado por ciclos eleitorais e percepções políticas, não consegue aceitar sem custos.
A União Europeia e líderes como Boris Johnson optaram por uma abordagem conformacional, enquanto Ângela Merkel procurava integrar gradualmente a Rússia através da interdependência energética, criando constrangimentos políticos que beneficiavam ambos os lados. A saída de Merkel deixou um vazio estratégico, preenchido por leituras simplistas da realidade russa e subestimação do tempo, elemento vital numa potência continental com memória histórica profunda.
Barack Obama desvalorizou Putin, reduzindo-o simbolicamente a uma potência regional, e os EUA abandonaram a Europa após a anexação da Crimeia, criando um vazio diplomático. A Crimeia, integrada na Ucrânia por decisão soviética, tornou-se um ponto de instabilidade após o colapso da URSS, um detalhe histórico ignorado pelo Ocidente.
A NATO tentou trazer a Rússia para uma parceria estratégica, integrando-a no G8, uma via de diálogo que ajudava a reduzir desconfianças estruturais. Esse caminho falhou quando o golpe de Estado na Ucrânia rompeu equilíbrios regionais, transformando a União Europeia de parceira em concorrente direta, e marcando o fim da cooperação que guiava as relações desde os anos 1990. A Rússia isolou-se e adotou uma nova estratégia de confrontação, levando a uma nova Guerra Fria, desta vez muito mais quente.
Qualquer apoio adicional à Ucrânia deve ser condicional, apenas após falharem negociações de paz, caso contrário prolonga-se o conflito. Mesmo reconhecendo a violação do Direito Internacional, sabemos que o direito evolui com o tempo, fruto de negociações e equilíbrios de poder, e que a diplomacia é o instrumento real de realização dessas normas.
A Europa conhece bem o custo de guerras prolongadas e o valor das soluções imperfeitas. É hora da diplomacia, em que a União Europeia é exímia, não é hora de guerra.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma












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