Nos últimos conflitos e guerras, do corrente século, tropas mercenárias têm sido usadas, de uma forma muito eficaz nos diversos teatros de guerra e teatros de operações.
O péssimo exemplo da atuação dos Blackwaters, no Iraque, constituí um caso de estudo em todo o mundo, pois a sua atuação sanguinária e sem ética, embora tenha parecido eficaz a nível operacional, no nível político constituiu um revés importante para os EUA, algo que constatei “in loco” ao alisar as vergonhosas negociações efetuadas para a saída do país, que no final redundaram numa capitulação unilateral americana.
O Teatro de Guerra Ucraniano, parece não ser uma exceção neste domínio, dado que hoje foi noticiado que os russos estavam a contratar mercenários, para entrar na guerra, mercenários que como sabemos atuam sem ideologia, sem deontologia e sem princípios éticos.
À primeira vista, é estranho que um estado autocrático tenha que recorrer a este tipo de elementos e forças constituídas, pois não têm normalmente os mesmos problemas de escrutínio da legalidade da sua atuação, nem mesmo no domínio da deontologia e da ética, que um estado democrático tem, pois da sua atuação e da aprovação dos seus cidadãos/eleitores depende a continuidade no poder.
Pelo que refere, esta contratação de mercenários por parte dos russos, em minha opinião, é prova de que Putin está desesperado e necessita acabar a guerra rapidamente, custe o que custar, pois o tempo é essencial para aliviar a pressão internacional a que tem estado sujeito.
Temo que do lado ucraniano venham a ser contratadas também tropas mercenárias, que poderão vir a atuar camufladas de forças ou elementos individuais, que terão voluntariamente respondido ao apelo de Zelensky, para a criação de uma legião de voluntários, simpatizantes da justeza da causa Ucraniana.
Curiosamente, a utilização de tropas desta natureza na guerra é tão velha quanto a própria guerra, pois estou curiosamente a acabar de ler um livro, sobre Ruy Dias, “El Sid”, um mercenário do século XI nas guerras da reconquista cristã da península, hoje considerado um herói do país vizinho, que não passava de um comandante duma milícia mercenária, muitas vezes contratada pelos próprios mouros, contra outros reinos cristãos.
O livro em causa, curiosamente remete-nos para manobras semelhantes à utilizada pelos russos, no que concerne ao cerco dos castelos, e ao facto de não os poderem ignorar na sua progressão, para não serem pela sua guarnição atacados pela retaguarda.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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