O meu professor na escola primária, que hoje faleceu, e que recordo com saudade nesta crónica, foi colocado pela primeira vez na conhecida escola da D. Quita. O meu primeiro professor foi um excelente educador, era novo, acabado de sair da Escola do Magistério Primário, pelo que por esse facto, e por estar motivado, introduziu novos métodos de ensino, no bafiento período pré-25 de abril, onde nas aulas da Dona Quita Passarinho, a diretora da escola, ainda se cantava o hino nacional de braço esticado, voltados para a fotografia de Salazar, e se rezava antes do início dos trabalhos.
O meu professor, pelo contrário, contrastava com os outros, pois embora sem experiência, era um excelente profissional, estava motivado, gostava da profissão, e por isso, a sua atitude era como que uma lufada de ar-fresco, que soprava naquela bafienta escola, tendo provocado por isso um grande “sururu” na classe dos professores, que não queriam ouvir falar de novos métodos de ensino, incluindo a minha mãe, também professora, que o criticava por nada ensinar, tendo por esse motivo, me retirado da escola e me transferido para outra, para uma tradicional professora, que usava os velhos métodos de ensinar violentamente, com recurso a ponteiros, transformados em varas de sevícias, e a régua que nos acariciavam as mãos ao mais pequeno deslize.
Atualmente, os alunos não sabem, e ainda bem, o que era ser aluno nos anos sessenta e setenta do século passado, com professores normalmente violentos, formados no Estado-novo, em que a autoridade dum professor não se punha em questão, e essa autoridade normalmente exercia-se com violência.
Aprendi com o meu professor a dar valor aos professores mais novos, que trazem novas ideias, novos métodos de ensino, e que infelizmente, hoje, são cada vez menos nas escolas deste país à beira-mar plantado, por a carreira não ser atrativa para os recém-licenciados, que dela se afastam como o diabo da cruz, estando a idade-média da classe acima dos cinquenta anos, facto que é muito preocupante, pois o futuro deste país depende da educação, e não há educação sem a renovação e rejuvenescimento da classe, pelo que espero sinceramente que este novo governo, nos próximos quatro anos, faça o possível, por inverter esta triste situação.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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