Geral Opinião

A Armadilha Venezuelana: Porquê Trump deve evitar o erro líbio

A situação na Venezuela evidencia um grave impasse geopolítico. Nicolás Maduro mantém o poder apesar de ter perdido as últimas eleições, sustentado pela força do aparelho repressivo e milícias bolivarianas. Ao contrário da Rússia onde os opositores de Putin são eliminados antes das urnas na Venezuela há uma falsa legalidade eleitoral sem alternância real. Este quadro cria tensão social crescente pressões humanitárias e uma crise migratória que já afeta toda a região.

Donald Trump promoveu recentemente uma demonstração de força naval no Caraíbas prática clássica da estratégia americana para desestabilizar regimes adversários. Contudo a história mostra que estes gestos isolados raramente produzem resultados concretos. A Líbia é ilustrativa. Apesar da intervenção da NATO que derrubou Kadafi o país mergulhou numa guerra civil que dura até hoje. No Afeganistão a retirada abrupta em 2021 evidenciou a fragilidade das intervenções militares longas e mal planeadas.

O paralelo entre Líbia e Venezuela é preocupante. Sem intervenção terrestre robusta o regime resiste indefinidamente. Mas uma invasão traria guerra prolongada e devastadora com milícias armadas narcotráfico e redes paramilitares. O colapso estatal criaria vazio ocupado por criminosos aumentando narcotráfico e insegurança como na Colômbia dos anos 80.
As consequências atingiriam toda a América Latina com antiamericanismo crescente e populismo de esquerda no México Colômbia e Brasil. Uma crise migratória massiva sobrecarregaria vizinhos pressionando EUA e Brasil agravando tensões entre Washington e o bloco sino-russo.

Um mandato ONU atenuaria riscos oferecendo legitimidade internacional. Mas está bloqueado pelo veto russo chinês que defende a soberania venezuelana como escudo contra ingerências próprias.

Trump pode ceder à tentação de força ou golpe interno como no assassinato de Soleimani no Irão ação simbólica que gerou mais instabilidade. Na Venezuela isso beneficiaria aliados de Maduro ampliaria influência russa iraniana e deixaria caos duradouro.
Opções claras: golpe interno que já falhou historicamente ou abordagem cautelosa com contenção sanções seletivas e apoio discreto à oposição. A história de Iraque Afeganistão e Líbia aconselha prudência.

A Venezuela não é teatro simples de conflito. É pântano hemisférico que engoliria qualquer arrogância intervencionista.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na reforma