Opinião

A nossa falta de organização faz parte do nosso ADN

Um dos vários especialistas em virologia, infeciologia ou saúde pública, num canal de televisão nacional, referiu ter sido uma pena que, a ajuda sanitária militar alemã, não tivesse sido direcionada para um hospital do SNS, pois segundo ele, muito se poderia aprender com os militares alemães profissionais de saúde, em termos de organização do trabalho de equipas,
de procedimentos, que reconheceu ser um dos nossos pontos fracos, já que em termos de preparação e formação profissional individual e técnica, pouco ou nada temos a aprender, dado termos bons profissionais.

Esta falta de organização é uma das nossas idiossincrasias que mais dificultam o nosso sucesso, em qualquer domínio do trabalho, pois não sendo eficientes, ou seja estruturados e organizados, dificilmente atingimos a eficácia.

Na minha vida profissional várias vezes me questionei porque não adotávamos os procedimentos NATO ” ipsis verbis”, quer na nossa organização militar quer em termos de doutrina, procedimentos e métodos de trabalho, que estão provados serem eficientes, e com os quais muitos dos nossos oficiais e sargentos têm trabalhado, quando colocados em Estruturas de Comando NATO, Quartéis-generais e Forças Conjuntas, conhecendo-os
profundamente, mas que ao voltarem para Portugal os não conseguem fazer adotar, porque ninguém parece realmente se importar com a nossa falta de eficiência, pois a flexibilidade, vulgo desenrascanço, está-nos no ADN, sendo impossível mudar esse karma.

Concluo afirmando que mesmo que a ajuda militar sanitária alemã tivesse ido para um hospital do SNS e nós tentássemos o aprender com a sua eficiência, de nada serviria, pois mudar mentalidades e idiossincrasias em Portugal é uma perfeita ingenuidade, semelhante à luta de Dom Quixote contra os moinhos de vento, que tomou por gigantes.

Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva