Meloni, ao ter acabado com a imigração num país envelhecido como a Itália, cometeu um erro profundo. Como qualquer partido populista que transforma a imigração no bode expiatório de todos os problemas, sacrificou a lógica económica à conveniência política. Ao fechar fronteiras num país com uma taxa de natalidade de apenas 1,5 filhos por mulher, fragilizou a renovação populacional e reduziu o potencial produtivo, deixando a Itália sem força de trabalho suficiente para sustentar o crescimento económico. Quando percebeu o impacto das suas medidas, com o PIB em queda e setores essenciais em crise, tentou corrigi-las. A reversão é lenta e dispendiosa, custando milhares de milhões e provocando desequilíbrios económicos e sociais. A demografia ensina que sem imigração não há futuro económico sustentável.
O populismo, no seu núcleo, é uma estratégia de acesso rápido ao governo baseada em discursos oportunistas, apoio popular imediato e manipulação da opinião pública, sem ideologia estruturada que garanta previsibilidade ou coerência. Chegar ao poder pela emoção e pela oportunidade pode parecer eficaz a curto prazo, mas acarreta decisões imprevisíveis, falta de planeamento e tendência à concentração de poder, corroendo instituições e enfraquecendo a confiança pública. Ontologicamente, é uma mistificação ética: valores morais como justiça social ou defesa de minorias servem de fachada, legitimando decisões arbitrárias e desvirtuando o compromisso com o bem comum.
A política populista tende a substituir reflexão por reflexo. Governar pela vox populi ou pelas sondagens cria a ilusão de consenso, reproduzindo riscos históricos de democracias diretas capturadas por emoções, como aconteceu na Alemanha nos anos 30 com Hitler. Trump, de forma semelhante, começa a perceber os limites do seu populismo. Nos Estados Unidos, o crescimento económico sempre dependeu da imigração. Integrar migrantes é das formas mais humanas de sustentar inovação, equilibrar o mercado de trabalho e manter o PIB. A cartilha de dizer tudo e o contrário conforme as sondagens destrói credibilidade e fragiliza o Estado, transformando-o em reflexo das emoções populares.
Concordo com Albright quando afirma que Putin é um neo-fascista, e o mesmo impulso, embora em graus distintos, observa-se em Trump e outros líderes que exploram a opinião imediata para consolidar poder, convertendo ética em teatro e verdade em instrumento tático. Em contraste, a democracia indireta, sustentada por ideologias coerentes, instituições sólidas e racionalidade técnica, oferece estabilidade e responsabilidade, protegendo o povo dos impulsos que conduzem à autodestruição política. O populismo é uma negação da complexidade e só democracias que equilibrem legitimidade popular e racionalidade técnica sobreviverão, evitando mudar de rosto a cada ciclo da opinião pública.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma












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