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O Ídolo, o Príncipe e o Circo do Poder: Futebol, Política e Ética na Era do Sportwash

O encontro entre Cristiano Ronaldo, Donald Trump e Mohammed bin Salman na Casa Branca em 2025 revela-se um episódio emblemático de como o futebol transcende o desporto e se converte numa poderosa ferramenta política e simbólica. Ronaldo, estrela global e rosto da liga saudita, assume neste contexto um papel muito para lá do campo, instrumentalizado no jogo do sportwash promovido pela Arábia Saudita, que busca lavar sua imagem autoritária via desporto.

O futebol funciona hoje como um rito moderno de catarse e coesão social, um espaço simbólico onde se concentram as tensões culturais, sociais e políticas das sociedades contemporâneas. Este fenómeno, estudado por sociólogos como Durkheim e Turner, é usado pelas elites para canalizar descontentamentos, apaziguar multidões e reproduzir narrativas de poder, numa dinâmica que remete diretamente às tradições do “pão e circo”.

Do ponto de vista ético, a presença simultânea de Ronaldo com figuras como Mohammed bin Salman, acusado por organizações internacionais pelo assassinato de Jamal Khashoggi, e Donald Trump, insere-se numa trama complexa onde o brilho mediático e as estratégias de poder entram em conflito com valores universais como a justiça e os direitos humanos. Ronaldo, enquanto ícone, é envolvido numa rede de interesses onde a responsabilidade moral frequentemente cede lugar à conveniência política.

Essas observações formam uma tese original que articula a “Dialética Fluida da Guerra” e a “Fratura Civilizacional”, conceitos que ampliam a compreensão da guerra, da paz e do poder, incluindo o papel do espetáculo e do ritual na construção das narrativas globais. O esporte, assim, não é apenas entretenimento, mas elemento central na política contemporânea e nas relações internacionais.

Este quadro convida à reflexão sobre a urgência de uma ética que ultrapasse a superfície brilhante do espetáculo e abrace uma consciência crítica do papel simbólico e político das figuras públicas nas arenas globais. Ronaldo e o futebol exemplificam como a modernidade produz espetáculos que simultaneamente expressam, manipulam e ocultam as tensões profundas do nosso tempo, funcionando como o novo “ópio das multidões”.

Esta análise inovadora, que integra política, cultura, sociologia e ética, contribui para um debate mais amplo sobre poder, identidade e responsabilidade na contemporaneidade e será uma valiosa adição ao seu livro.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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