Geral Opinião

A propósito de burcas e quejandos

A identidade europeia ocidental formou-se em oposição ao Islão, desde as Cruzadas até à queda de Constantinopla em 1453, que deu origem ao inimigo otomano. A Batalha de Lepanto foi o ponto alto dessa longa guerra santa. O ódio recíproco entre cristandade e Islão ficou enraizado em dois modelos civilizacionais diferentes, religiosos e culturais, que se reacendem sempre que um dos lados se sente ameaçado.

Hoje, esses ecos persistem. As novas cruzadas, como a guerra do Iraque ou o apoio ocidental a Israel, alimentam desconfianças mútuas. E os fluxos migratórios de refugiados e migrantes económicos vindos de regiões devastadas por conflitos que muitas vezes o Ocidente provocou tornam visíveis tensões antigas.

Em Portugal, o uso de vestes islâmicas é ainda residual, muito inferior ao que se observa noutras capitais europeias. Curiosamente, vi mais burcas em Bruxelas do que no Iraque. Por isso considero sensata a nova legislação portuguesa que regula estas práticas, desde que permita o uso do véu como sinal de fé, tal como o crucifixo.

Os portugueses já foram críticos do movimento “woke” antes de ele chegar ao país. Talvez possamos também agir de forma preventiva, não contra a religião, mas contra os extremismos que teimam em renascer de ambos os lados.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma