Geral Opinião

Democratizar a Inteligência Artificial: A aposta estratégica que os EUA precisam de fazer

A corrida global pela inteligência artificial deixou de ser apenas uma questão tecnológica: tornou-se um fator central de geoestratégia. Atualmente, observa-se um fenómeno curioso: na China, a IA mais avançada é gratuita e amplamente acessível; nos Estados Unidos, os modelos mais sofisticados permanecem pagos, restritos a grandes empresas e instituições selecionadas.

À primeira vista, pode parecer vantajoso controlar o acesso à tecnologia mais potente. No entanto, a experiência histórica e a lógica da inovação mostram o contrário. A difusão massiva da IA chinesa permite a criação de um ecossistema vasto de experimentação. Startups, universidades, desenvolvedores independentes e cidadãos comuns interagem com a tecnologia, gerando dados, experiências práticas e soluções inesperadas. É o efeito rede aplicado à inteligência artificial: quanto mais gente usa, mais rapidamente se aprende e se evolui.

Nos Estados Unidos, ao restringir o acesso, há um risco estratégico claro: a formação de talento e o volume de conhecimento prático ficam limitados. Ter o modelo mais avançado não basta; é preciso que ele seja usado, testado e explorado por uma massa crítica de especialistas e inovadores. Sem isso, a liderança tecnológica torna-se teórica e vulnerável.

A geopolítica da IA não é só uma disputa por poder tecnológico, mas por capacidade de criar ecossistemas de inovação. A China, ao democratizar o acesso, não só acelera a experiência prática como fortalece a sua posição internacional em setores críticos. Os Estados Unidos, se quiserem manter a liderança, terão de repensar a sua estratégia, combinando segurança, monetização e, sobretudo, democratização do acesso.

O futuro da supremacia tecnológica não será decidido apenas pelo modelo mais potente, mas por quem consegue transformar tecnologia em conhecimento coletivo, talento e aplicações concretas. Neste campo, a liberdade de experimentar é tão estratégica quanto a potência dos algoritmos.

Infelizmente a UE não conta neste campeonato, pelo que a sua autonomia estratégica estará comprometida, senão desenvolver uma Inteligência Artificial própria, pois a qualquer momento uma, ou ambas as potências podem barrar o acesso dos europeus à ferramenta essencial do desenvolvimento no presente e no futuro.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma