É interessante verificar como os países do chamado primeiro mundo aqueles com os quais tantas vezes nos queremos comparar tratam a cultura, em especial a museologia. Neles, os objetos estão expostos, catalogados e investigados pormenorizadamente, constituindo acervos vivos.
A maioria dos museus dispõe de equipas de investigação e restauro, que realizam esse trabalho hercúleo, mas fundamental: conhecer, preservar e transmitir às gerações vindouras o maior património que temos a nossa herança cultural. Ao mesmo tempo, fortalecem o turismo cultural, uma área que poderia ser um dos grandes diferenciadores de Portugal.
Esta reflexão surge na sequência de uma descoberta recente: um quadro de Josefa de Óbidos, encontrado no Palácio Nacional de Mafra. A obra, bastante degradada, era até há pouco tempo de autoria desconhecida. A iniciativa de identificação é louvável. Contudo, tal como este tesouro artístico de uma das maiores pintoras portuguesas, centenas de outras obras encontram-se espalhadas pelo país, sem estudos adequados. O exemplo paradigmático é o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Quem percorre os seus extensos corredores depara-se com inúmeros quadros de “autores anónimos”, atribuídos a escolas artísticas, mas sem se conhecer a proveniência, quem os encomendou ou adquiriu. A justificação habitual é a falta de dinheiro para investigação. Mas, na verdade, o que falta é vontade política e cultural nos diferentes patamares de decisão.
Enquanto isso, em Inglaterra, programas televisivos alcançam grande audiência mostrando, passo a passo, como investigadores descobrem a história de obras de arte um verdadeiro enredo digno de Agatha Christie. No Museu do Prado, em Madrid, sigo frequentemente equipas que falam apaixonadamente das obras que investigaram. O contraste com Portugal é desolador.
Fico perplexo com a nossa inqualificável falta de interesse pela História da Arte Antiga, moderna e contemporânea. Este desprezo pela cultura é reflexo direto do nosso atraso e da inexistência de verdadeiras elites culturais, apesar dos milhares de licenciados que formamos todos os anos.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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