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Acordo em Edimburgo: Vassalagem ou Realpolitik?

Foto: Brendan Smialowski / AFP

A União Europeia, representada por Ursula von der Leyen, deslocou-se à Escócia para negociar diretamente com Donald Trump, numa tentativa de evitar a imposição de tarifas alfandegárias de 50% sobre os produtos europeus a partir de 1 de agosto. Este gesto simbólico – sair de Bruxelas para negociar em solo britânico – já revelava a assimetria do encontro.

Trump, no seu estilo habitual, não se limitou à chantagem comercial. Aproveitou o momento para exigir à Europa, no quadro da NATO, que todos os Estados membros elevem os seus gastos com Defesa de 2% para 5% do PIB. Em simultâneo, pressionou para que aumentássemos significativamente a importação de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos, vendido a preços inflacionados.

O resultado foi um acordo formal entre as duas maiores economias ocidentais. Mas, na substância, a Europa saiu derrotada. Ficámos comprometidos a adquirir cerca de 800 mil milhões de dólares em material militar americano e 700 mil milhões em GNL, num esforço financeiro que compromete a nossa autonomia estratégica. Estes montantes não são apenas números astronómicos – representam um desvio brutal de recursos que deveriam ser investidos na base industrial e tecnológica de defesa europeia, e na transição energética que nos libertaria da dependência externa.

A vitória de Trump é total. Von der Leyen, uma figura imposta por Merkel e já em fim de ciclo, demonstrou mais uma vez a sua fragilidade política. António Costa, apresentado como alternativa progressista, não teve qualquer peso visível nestas negociações.

Com lideranças fracas, sem mandato claro dos povos europeus, a Europa volta a curvar-se perante um imperador errático que já não representa os valores fundacionais da democracia liberal ocidental. Estamos a pagar caro pela ausência de estratégia e pela ilusão de que a submissão pode comprar paz.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma