Geral Opinião

Pensar fora da caixa: Um ato de amizade

A apresentação pública de um livro é sempre um momento delicado. Não apenas por aquilo que se mostra ao público, mas por tudo o que se revela nas palavras, nos gestos, nas memórias partilhadas. Foi o que aconteceu no passado sábado, 19 de julho, no Convento de Mafra, na apresentação do meu mais recente livro Crónicas em Tempo de Guerras, da Diplomacia e da Paz.

Coube a três personalidades distintas e muito distintas entre si apresentarem a obra: o eurodeputado Hélder Sousa e Silva, o Dr. Álvaro Beleza, presidente da SEDES, e o Professor Anes. Três olhares diferentes sobre o país, sobre a política, sobre o tempo que vivemos. E, por isso mesmo, três contributos que muito valorizaram o momento.

Mas foi nas palavras de Hélder Sousa e Silva antigo presidente da Câmara de Mafra que encontrei algo de especialmente marcante. Perante os presentes, afirmou com a frontalidade que lhe reconheço:

O pensamento do Coronel Nuno Pereira da Silva é claramente fora da caixa. Não raras vezes me criticou, de forma pública, no Jornal da Ericeira. Mas fi-lo sempre com respeito, e talvez por isso mesmo, entendi essas críticas como um sinal de amizade.

Fiquei, confesso, comovido com essa afirmação. Porque a crítica quando é leal, fundamentada e com sentido construtivo é, de facto, uma forma elevada de amizade. E porque vivemos tempos em que essa forma de diálogo se torna cada vez mais rara.

Sempre recusei alinhar-me com estruturas partidárias. Foi uma escolha, feita com lucidez. E como todas as escolhas, teve o seu preço. A independência paga-se por vezes com silêncios institucionais, outras com desconfiança ou marginalização. Mas nunca me arrependi. Continuo a acreditar que pensar por conta própria é um dever cívico, especialmente quando se teve o privilégio de servir o país.

Não critico por criticar. Escrevo porque quero contribuir. Porque acredito que os problemas embora fáceis de identificar exigem soluções que levem tempo, maturação, diálogo e força de execução. E isso aplica-se tanto à política interna como à ação externa. Não há atalhos para a diplomacia nem para a paz.

A apresentação do livro no Convento de Mafra lugar onde o tempo parece respirar mais fundo foi também isso: um momento de convergência. De palavras livres, sem servilismos. De reconhecimento mútuo. E de prova de que, afinal, é possível discordar e respeitar. Criticar e estimar. Pensar diferente e, ainda assim, caminhar no mesmo sentido.

Se o meu pensamento é, de facto, fora da caixa, talvez o de Hélder Sousa e Silva também o seja ao reconhecer, publicamente, que a crítica honesta pode ser um sinal de amizade. E isso, nos tempos que correm, vale tanto quanto um voto. Ou mais.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma