Donald Trump e Benjamin Netanyahu estão reunidos na Casa Branca. O único ponto na agenda: um cessar-fogo de sessenta dias com o Hamas.
O pano de fundo é tenso e complexo. Após o apoio dos Estados Unidos à mais recente escalada militar entre Israel e o Irão — um confronto direto que durou treze dias e só terminou com uma intervenção americana em território iraniano, a qual atrasou substancialmente o programa nuclear de Teerão —, Trump procura agora capitalizar esse esforço. Exige a Netanyahu uma trégua que sirva de sinal de controlo e força, quer perante o eleitorado norte-americano, quer perante o sistema internacional.
A intervenção americana foi, de facto, decisiva. Evitou o prolongamento de uma guerra de atrição que teria custado milhares de vidas e alastrado à região. Mas agora, terminado o confronto direto, a luta é outra: a diplomática. E nessa arena, Trump joga com os olhos postos nas urnas.
A grande questão permanece: conseguirá Trump exercer pressão suficiente sobre Netanyahu? Há dúvidas legítimas. O primeiro-ministro israelita sabe que mantém, através do apoio de setores influentes da comunidade judaica americana, uma alavanca de poder significativa sobre os decisores políticos em Washington — Trump incluído. E, internamente, o seu próprio capital político depende de não parecer ceder a pressões externas, especialmente no que diz respeito ao Hamas.
No entanto, não se pode ignorar o drama humano que se desenrola diariamente em Gaza. Um cessar-fogo, mesmo que temporário, pode representar a única oportunidade de alívio para uma população exausta pela guerra e pela destruição. Milhares de civis, em ambos os lados, pagaram já um preço demasiado alto.
O eventual cessar-fogo não será fruto de um despertar de consciência. Será, como quase sempre nestes tabuleiros de poder, resultado de cálculos estratégicos e interesses cruzados. Mas, mesmo assim, poderá abrir uma janela, ainda que estreita, para a diplomacia e para a reconstrução.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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