Geral Opinião

A diplomacia é avessa ao populismo

A diplomacia é a arte de negociar, que os estados usam nas suas relações quer estas sejam estabelecidas bilateralmente quer multilateralmente.

A política realista de Trump baseia-se em relações de força, relações de poder, exclusivamente entre estados, desprezando as organizações multilaterais, que por definição são relações anárquicas, sem nenhuma mediação duma entidade multilateral.

Trump Não é nem será o primeiro Presidente dos EUA adepto do realismo, só que o que este Presidente faz, ao contrário dos outros todos que eram realmente estadistas, institucionais, e normalmente conservadores, é completamente disruptivo.

As relações diplomáticas, podem ser mais o menos duras, podem e devem utilizar as técnicas usuais nas negociações comerciais, em que ambas as partes extremam as suas posições no início, para tentar chegar a um resultado que agrade às duas partes, mais ou menos no meio das duas, após cedências de ambas, muitas vezes recorrendo ao “bluff”, pensando sempre previamente na necessidade, de que ambas as partes  devem no final das negociações  darem a sensação que ganharam, tal como num jogo de win win, para satisfazerem, de certa forma, as suas opiniões públicas.

Ao contrário do que Trump faz, o segredo  de qualquer negociação é a alma do negócio, pois as relações bilaterais diplomáticas sem mediador, como tem sido o caso das negociações, que Trump tem feito desde o início do seu mandato, realizam-se se normalmente, no segredo dos gabinetes e entre representantes dos estados, que à mesa das negociações vão lutando, vão fazendo “bluff,” como num jogo de Poker, sem demonstrar emoções, gerindo silêncios, para pedir instruções às capitais, até que no final das mesmas tudo esteja estabelecido em Acordos, Tratados, altura em que se se reúnem os governantes dos dois lados, para os ratificarem.

Normalmente todas as delegações e posteriormente os chefes dos governos, mantém sempre uma postura de estadistas, uma postura institucional, quase litúrgica, pois os assuntos que tratam não são assuntos que se devam discutir na praça pública, necessitam de descrição, de sigilo, pois não são negócios de feira ou de bazar marroquino, como o novo Presidente dos EUA de todo e qualquer assunto, parece querer fazer.

Esta disrupção da diplomacia feita por populistas, à base de bravatas, como se a política e a diplomacia fossem um “reality show”, é contrária a todos os princípios de negociação. Enfim, é neste aspeto, não de somenos importância, que os populistas como o Trump são diferentes dos verdadeiros estadistas, quer sejam conservadores, quer democratas.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Tags