Já estive em cooperação militar em São Tomé, em Angola e no Iraque, embora tivesse sido, em São Tomé e Príncipe, que tive uma visão mais abrangente da Cooperação noutras áreas de atividade para além da Cooperação Militar, quer nacional quer internacional no país, e estou também atualmente a trabalhar em organizações não governamentais para o desenvolvimento, o que me permite analisar a razão principal porque todas elas acabam por falhar os seus objetivos explícitos, mas não os implícitos, nunca sequer assumidos declaradamente pelas diversas entidades que as patrocinam.
Sabemos que normalmente a cooperação, embora os seus objetivos declarados, sejam quase sempre filantrópicos, tais como ajudar o desenvolvimento sustentável numa determinada área da governança, de forma desinteressada por parte dos estados e na maior parte das ONG’s, na prática há sempre objetivos não declarados, de continuar a exercer uma influência política, do estado patrocinador ou ONG, sobre os estados destinatários, por forma a tirar outro tipo de proveitos, na maior parte das vezes económicos.
A maior parte dos programas de cooperação visam implementar doutrinas, normas e procedimentos, espúrios aos países destinatários, e embora o estado recetor destes ensinamentos, normalmente os ratifique, a todos os níveis, nunca os coloca em prática, porque os modelos ensinados pouco ou nada têm a ver com as suas idiossincrasias, e mesmo com as suas formas de organização da governança baseada em modelos e valores de cada tradicionais, ou seja, são modelos de desenvolvimento, que não estão em consonância com as Civilizações a que se destinam.
Os modelos de desenvolvimento e de governança que exportamos, são em última análise modelos que lhes impomos, e que não são diferentes dos modelos coloniais, em nenhuma das geografias em que estive em cooperação, ou seja, os destinatários normalmente não fazem parte da construção desses modelos, e nunca são aquilo que eles, na realidade necessitam, bem como são normalmente implementados por pessoal especializado vindos do Ocidente, tecnicamente muito proficientes e competentes nas diversas áreas de atividades, mas incompetentes em termos sociológicos, embora por esse motivo estejam convencidos que os modelos que exportam são inquestionáveis.
Como resultado prático verifiquei, analisando todo este meu trabalho, que na prática no Iraque o modelo falhou redondamente, e o país regressou à instabilidade e à guerra civil tribal, e nos nossos PALOP’s , verifico que ao fim de tantos anos, eles continuam a precisar de nós, ou de outros parceiros, para efetuarem a governança dos seus países de uma forma eficiente, o que está em consonância com o objetivo implícito, mas não explícito, ou seja, de manter em permanência uma dependência do país destinatário, e assim manter indefinidamente uma influência política.
Qualquer modelo de cooperação tem que ser desenhado conjuntamente com o país destinatário, atendendo às suas reais necessidades, nunca devendo ser imposto univocamente.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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