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Síria, Al Julani passou de perigoso terrorista a salvador do Estado

Foto: Getty Images

Com exceção de Israel, que está a aproveitar a queda de Assad na Síria para destruir todos os sistemas de armas do Exército Sírio de Assad, bem como a conquistar mais o território da zona desmilitarizada, a maior parte da comunidade Internacional está esperançada na nova governação, que venha a substituir o governo de transição, que será liderada por Al Julani o líder do HTS.

Os grandes atores internacionais e “stakeholders”, ou partes interessadas, estão a reabrir as suas embaixadas no território sírio onde, a ONU já colocou um enviado especial, e a UE está a preparar-se para enviar o seu, após a reunião do Conselho dos Negócios Estrangeiros, que está  a decorrer, hoje dia 16 de dezembro.

Os EUA por sua vez, apesar de Al Julani, ser ainda formalmente considerado um perigoso terrorista, com a cabeça-a-prémio, bem como o HTS que lidera, também estão a encetar conversações com ele, tendo para o efeito efetuado uma reunião no Domingo 15, com alguns dos stakeholders e países vizinhos, tendo em vista estabelecerem um plano de ação conjunto para ajudarem o país a efetuar uma transição pacífica.

Se Al Julani conseguir unir a cidade de Alepo e Damasco, as duas principais cidades sírias, cidades que constituem as duas das três estrelas da bandeira inicial da Síria, agora por ele re-adoptada como a nova bandeira da Síria, e a elas se juntarem todas as outras cidades sírias, incluíndo as dos curdos, cidades que todas juntas constituem a terceira estrela da bandeira inicial,  conforme explicava de Sir Lawrence Olivier na altura do nascimento do Estado Sírio, conseguirá o seu difícil intento. A este propósito parece haverem boas notícias, dado que sabemos que desde hoje, todo o já país parece ter adoptado a nova-velha bandeira, inclusive os curdos, o que é um bom presságio para o futuro deste país.

De acordo com as informações de que disponho, a Turquia ofereceu-se já para capacitar o novo Exército da Turquia, providenciando material e treino, algo que será uma forma da própria NATO, a que a Turquia pertence, de também se vir obrigada a apoiar o novo governo Sírio, mesmo que eventualmente tivesse dúvidas em o fazer, para não entrar num eventual conflito com Israel, que está a invadir parte do território Sírio e a bombarde-á-lo. Neste ponto em específico, a nova administração americana, vai ter de resolver este problema entre aliados, dado ser um ponto muito sensível.

Parece realmente que Al Julani se moderou, tendo inclusive mudado o seu visual, para poder ser mais convincente, aparando a barba para não parecer tão radical, bem como sabemos que enviou forças para as principais cidades sírias e que garantiu proteger as minorias, garantindo a liberdade aos diferentes cultos.

Por tudo o que explanei, parece-me que a Síria, poderá eventualmente, e contrariando as minhas impressões iniciais, vir a ser um Estado Laico e moderno do Sistema Internacional, ao contrário do que aconteceu na Líbia, bem como tenho esperança que na sua nova constituição, venham a constar formalmente os direitos e o respeito pelas minorias.

O desafio vai ser enorme e a Comunidade Internacional vai ter de se empenhar em ajudar a construir a paz, e a reconstruir o país, levantando todas as sanções. O apoio do Ocidente, neste momento é fulcral, pois se o não fizer a Rússia certamente que o fará, dado que não quererá perder definitivamente as duas bases que dispõe no país, nem que para isso tenha que entregar Assad, e os 250 mil milhões de dólares que o ex-ditador desviou ao longo do tempo para a Rússia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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