A Síria encontra-se, depois da queda de Damasco, dividida em quatro grandes zonas que, aparentemente não estão a atuar debaixo de nenhum comando conjunto, e que inclusive se digladiam entre si, pela posse de mais território, numa altura em que há um grande vazio de poder no país. Neste sentido, e de acordo com as informações de que disponho, a região Curda Síria, que vou analisar, está a expandir-se rapidamente para Sul, para fora do território Curdo.
Recordo que o Ocidente está em dívida para com os Curdos Iraquianos, que com a sua força denominada por Peshmerga, lutaram conjunta e heroicamente, com os EUA em duas ocasiões, nomeadamente: Durante a invasão do Iraque, em que franquearam as portas de entrada no seu território, às Forças de Invasão Americanas, e as ajudaram a penetrar profundamente no território Iraquiano, para além da Zona do Curdistão Iraquiano e posteriormente os Curdos Sírios, novamente com auxílio dos Pershmerga, foram uma das forças que mais contribuíram para a derrota do Estado Islâmico, quando este ameaçava a segurança ocidental, efetuando vários ataques terroristas, quer direta quer indiretamente, apelando na net, a que eventuais simpatizantes, os fizessem em seu nome.
Pelos factos suprarreferidos o Ocidente muito deve aos Curdos, embora nunca os recompensado, com o reconhecimento à autodeterminação, objetivo que almejam desde a Conferência do Cairo em 1919, quando Churchill dividiu a região, que o Reino Unido administrava no Médio-Oriente. Curiosamente, a este propósito, reza a História, que Churchill, então Ministro das Colónias Britânico, na véspera da Cimeira do Cairo, tinha a intenção de atribuir à nação Curda, o território por eles habitado, e que por razões mal apuradas, terá sido dissuadido de o fazer, fendo tomado a decisão extemporânea, de o dividir por quatro países, nomeadamente o Irão, a Síria, o Iraque e a Turquia, deixando uma nação sem território, à semelhança dos palestinianos.
A Turquia, neste domínio, tem sido a nação aliada da NATO, que mais se tem oposto a essa justa recompensa pela sua lealdade ao Ocidente, impedindo mesmo que, no Iraque, após a queda de Saddam, o território do Curdistão Iraquiano adquirisse a independência, pois para Erdogan qualquer pretensão Curda à autodeterminação numa qualquer parte do território da nação Curda, catalisaria na certa, a curto-médio prazo a cessação do Curdistão Turco, do atual território da Turquia.
O facto de com a queda do Assad na Síria, os Curdos Sírios estarem a alargar o seu território para Sul, é pelo , um pesadelo para a Turquia, que como sabemos terá instigado este golpe-de-estado na Síria, e que paradoxalmente é considerada a potência regional, que mais ganhou com este golpe de estado.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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