As diferenças entre as pessoas, mesmo dentro da mesma etnia, comunidade, credo ou religião, levam a que sejam geradoras de gáudio, de segregação, de “bullying,”que nāo raras vezes sāo geradoras de violência verbal e física contra aquele ou aqueles, que por alguma razão se distinguem da maioria, quer seja por ser mais inteligente, mais gordo, mais magro, por usar óculos, enfim, por ser diferente.
Quando estive em Sāo Tomé e Príncipe, apercebi-me que entre os cidadãos de nacionalidade Sāo Tomense, todos eles africanos, havia diferentes matizes de cor de pele: uns por serem de famílias oriundas de Angola, mais escuros, que há séculos habitam maioritariamente a região de São João de Angolares, que segundo reza a lenda, os seus antepassados longínquos terão sobrevivido ao naufrágio dum navio de esclavagistas, outros cujas famílias terão vindo de Cabo Verde, no período do Estado-Novo para trabalhar nas roças, e ainda outros que no passado mais ou menos recente, alguns dos seus ancestrais se tenham cruzado entre si e também com alguns colonos brancos.
Às diferenças de matizes de tom de pele, os São Tomenses, atribuem várias designações, desde os mestiços, semi-brancos, até ao preto, que não raras vezes, só por esse facto, provoca alguma discórdia, ou mesmo segregação racista entre eles, chegando ao cúmulo de um dia dois irmãos, ao tentarem vender-me rebuçados artesanais, um deles se voltar para mim e dizer-me para não os comprar ao irmão mais novo, porque ele era preto.
Esta diferença entre cidadãos de uma micro-sociedade de cerca de 120 000 habitantes, é paradigmática e é algo que nos surpreende, à chegada, por muitas vezes ser geradora de segregações rácicas e tensões.
A exemplo desta micro-sociedade o racismo existe na atualidade em todo o mundo e em todas as sociedades, e é algo só ultrapassável, através da educação dos mais jovens, ou seja, ensinando a tolerância e o respeito ao diferente.
No passado, nas sociedades europeias, houve muita intolerância e perseguição, por vários factores étnicos, religiosos e culturais, em suma civilizacionais, que infelizmente são recorrentes, e por vezes mesmo patrocinados pelos poderes políticos, que fomentam propositadamente ódios ancestrais, para cumprir os seus objetivos pessoais e políticos, de que são exemplo o regime do “apartheid” na África do Sul; o nazismo, que fazia a apologia da raça pura ariana, contra os judeus e ciganos, o sionismo contra os árabes, que faz a apologia da sua religião que confunde com raça; e atualmente o Trumpismo e partidos de semelhante cariz ideológico, contra os emigrantes todos estes movimentos e ideologias, são em minha opinião, sinal que o atavismo, a boçalidade, em suma que a irracionalidade se sobrepõem à racionalidade, e que esta irracionalidade é promovida pelos políticos para atingirem os seus objetivos.
Enfim sinal dos tempos…
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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