Geral Opinião

A UE tem que ter autonomia estratégica em relação à NATO

Toda a minha vida ativa, como oficial do Quadro Permanente, como qualquer militar disciplinado, tive que cumprir as indicações superiores, por vezes sem com elas concordar. Esta forma de agir, por vezes ia contra o que pensava, e contra algumas das minhas convicções, algo difícil de gerir internamente, mas que tem de ser feito, porque el rei manda marchar, mas não manda chover.

Os exemplos mais paradigmáticos do que afirmo, estão relacionados com a nossa relação, em termos de segurança e defesa, em relação à UE, onde fui representante nacional em vários grupos de trabalho, a diversos níveis, militar, estratégico e até político-estratégico, pois sempre concordei com a posição francesa, relativamente à necessidade de autonomia estratégica em relação à NATO, e sempre tive, na hora de expressar a opinião nacional, de expressar e defender a opinião contrária, e votar em concordância com os Britânicos, que eram completamente a favor da preservação do status quo, ou seja apostar as fichas todas relativamente à segurança e defesa na NATO.

A posição francesa, ontem expressa claramente por Macron na Hungria, um dia depois de Trump ter sido eleito novamente Presidente dos EUA, não é mais nem menos, que a posição que este país assume desde De Gaule, tendo a imagem que usou, sido bastante eficaz em termos de comunicação política, quando referiu que no mundo só há carnívoros e herbívoros , ou seja, os predadores e os que servem de seu alimento, pelo que a UE tem que escolher o que quer fazer, muito embora no fim da sua intervenção se tenha referido a mais uma opção, a de ser omnívoro, talvez a posição mais acertada, porque nem tudo na realidade têm que ser uns e zeros.

Todos nós que fizemos planeamentos, táticos, operacionais e estratégicos, sabemos que embora façamos o planeamento para responder à hipótese mais provável, sabemos que temos sempre de acautelar a mais perigosa, e a mais perigosa foi mesmo a que ocorreu, com a eleição de Trump, alguém inconstante e incoerente, que tem pouca racionalidade na sua forma de atuar, e que se fizer orelhas moucas aos seus “advisors”, mais experientes civis e militares, pode colocar em risco a segurança europeia, até porque os interesses dos EUA e da UE não são necessariamente, completamente convergentes.

Nuno pereira da Silva
Coronel na Reforma