Será que os fins justificam os meios?
A Netflix colocou na sua lista de filmes um chamado Munique, baseado na vida real, que se inicia com o atentado terrorista, perpetrado na altura pela OLP, contra a equipa Olímpica Israelita nos Jogos Olímpicos de Munique, que terminou com a morte de todos eles.
Israel iniciou como sempre faz, uma caça ao homem, a todos os planeadores da ação, usando um operacional da Mossad encoberto, e uma eclética equipa de judeus empenhados, recrutados para o efeito.
A equipa anti-terrorista consegue ao longo do filme, liquidar seis dos onze terroristas, em diversas operações realizadas na Europa e no Médio Oriente, conseguindo informações do paradeiro dos suspeitos, pagas a peso de ouro, num intricado esquema de informadores, liderados por um “pater famílias”, com ligações privilegiadas com vários intervenientes, neste submundo , onde os serviços secretos de todas as potências e grupos terroristas se movem e interagem libertando as mesmas informações, por vezes até paradoxalmente, para ambos os litigantes e vários serviços secretos de estados com diferentes interesses.
A história está bem contada, e ajuda-nos a compreende a atualidade e o conflito em Gaza, pois o modo de atuação dos Serviços Secretos Israelitas é semelhante, e está também eliminando, paulatinamente, todos os responsáveis pela ação terrorista em Israel, com a diferença que desta vez estão a usar concomitantemente as suas forças de defesa, matando também população civil indefesa, num completo desprezo pelo Direito Humanitário da Guerra, que justificam como danos colaterais, em virtude do Hamas os utilizar como escudos humanos, o que não é sempre verdade.
O interessante do filme, em minha opinião, foi o de através da mãe do protagonista, termos percebido a visão do povo israelita, perseguido na II Guerra Mundial, a quem foi dado o território de Israel, para se juntarem finalmente como nação, em que essa sua nova pátria é o seu único reduto a sua única hipótese de sobrevivência coletiva, pelo qual devem morrer se necessário, pois não têm mais para onde ir, e que é justamente merecida pelo sacrifício que passaram ao longo dos séculos, desde que saíram da Terra-prometida por Deus, no Antigo-Testamento, livro que tem condicionado, e condicionará, toda a geo-política da região, ao longo dos séculos passados e vindouros.
Este sentimento é inicialmente partilhado pelo líder da operação anti-terrorista da Mossad, criado num Kibutz, facto que o motiva a eliminar os planeadores da ação, até que praticamente no final do filme, este se começa a questionar interiormente, sobre a génese da operação anti-terrorista que lidera, sobre se as ações de eliminação, que estava a levar a cabo, não seriam contraproducentes, pois os terroristas eliminados eram imediatamente substituídos por outros ainda piores, chegando no final a questionar se a sua ação se legitimava, e até que ponto esta, na sua essência, não era semelhante à daqueles que perseguia e eliminava, tendo concluído que com esta forma de atuação nunca se chegaria a alcançar a paz.
A refletir.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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