A cerimónia do 25 de abril sempre se fez no Parlamento.
Os partidos políticos perceberam a mensagem clara da sociedade civil, efetuada não orgânicamente, mas através das redes sociais, de que não era a época propícia para festejar, e reduziram draconianamente o número de deputados presentes na sessão solene. Os convidados, de proveta idade, perceberam que poderiam colocar em risco as suas vidas e declinaram, na sua maioria os convites, só tendo estado presentes 16 entidades, e o governo só esteve presente com cinco ministros.
Os protocolos de estado com GNRs nas escadarias, funcionários da Assembleia de Libré vestidos, e o pessoal do protocolo de estado do MNE foi reduzido ao mínimo, bem como os jornalistas presentes para efetuar a cobertura do evento.
Parece que afinal os movimentos não orgânicos, e as manifestações e abaixo assinados no Facebook funcionam, e são uma forma de o povo poder expressar a sua opinião diretamente, sem necessitar de representação.
Sim as redes sociais têm cada vez mais força, e ai dos políticos que o não percebam e que mesmo as ignorem.
O Presidente da AR, Ferro Rodrigues mostrou arrogância e inabilidade política ao não perceber, ou não querer perceber o que à sua volta se passava, e lá fez a sua cerimónia, embora numa escala muito pequenina, pressionado pelos partidos que reduziram o número de deputados e pela ausência dos convidados, que indiretamente lhe deram uma tão necessária lição de humildade.
O PR no seu discurso aproveitou para dar uma lição inóqua sobre a Assembleia da República e a democracia, fazendo-o num estilo coloquial em resposta, às perguntas que, segundo ele foram feitas pelos portugueses, que se manifestaram contra este formato de cerimónia, tendo aí perdido dois terços do tempo do seu discurso, sinal claro de que ouviu o povo, e que teve a noção que tinha que justificar a sua presença no evento, em que se notava pouco à vontade e comprometido, pois não foi nada efusivo contrariamente ao seu estilo habitual.
Das alocuções dos partidos sublinho a vergonhosa, mas já esperada, alucução de André Ventura, predominantemente anti-democrática, a apelar a uma revolução contra a III República, e carregada de clichés Xenófobos, e a alocução do BE anti-europeia, a apelar a um nacionalismo retrógrado, numa altura em que para não termos austeridade precisamos desesperadamente da Europa para poder aspirar a ter uma vida digna nos próxima década.
Termino reafirmando que, em minha opinião, o Sr Presidente da AR, não quis ouvir o o povo que se manifestou e que não é fascista, é realista. Celebrar Abril em tempos de Covid é ser solidário com o povo confinado, triste e com medo das consequências diretas e indirectas desta crise, que se assemelha mais a um tsunami, que parece não ter fim.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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