Diferente de simplesmente estar-se sozinho, a solidão pode ter efeitos negativos na nossa saúde, não só a nível mental, mas também físico. Fique a conhecê-los.
Estar sozinho nem sempre significa sentir-se só. Uma pessoa pode estar sozinha e sentir-se bem e realizada, assim como alguém que está rodeado de pessoas pode sentir-se só, por exemplo, por sentir que é incompreendido, que não é cuidado, que não pode contar com os outros ou até que não pertence a determinado contexto.
A solidão é um sentimento negativo, desagradável e subjetivo, e pelo qual todos passamos a dado momento na vida. Está mais relacionada com a forma como percecionamos o nosso nível de conexão e de contacto com os outros, o que pode ter efeitos negativos na saúde a longo prazo e afetar a qualidade de vida.
Embora qualquer pessoa, independentemente de fatores como a idade, possa sentir solidão, dados de um estudo sobre a prevalência em Portugal – em pessoas dos 50 aos 101 anos – demonstraram que esta é mais comum nas mulheres (20,4 %) do que nos homens (7,3 %) e aumenta com o avançar da idade: nas pessoas com idades entre os 50 e os 64 anos registou-se uma prevalência de 9,9 %; já a partir dos 85 anos, aumenta para 26,8 %.
Mas o que acontece no nosso corpo quando sentimos solidão? Não, não é “só” um sentimento. Leva ao aumento dos nossos níveis de cortisol (conhecido por hormona do stress), que pode prejudicar várias funções e sistemas, como o desempenho cognitivo e sistema imunitário, e também aumentar o risco de problemas cardiovasculares.
Saiba quais são os efeitos da solidão na saúde e o que pode fazer para combatê-la.
A solidão é um problema de saúde mental?
Não necessariamente. Sentirmo-nos sós não é em si um problema de saúde mental, no entanto, estes dois estados estão fortemente relacionados. Por exemplo, pessoas que sofrem de problemas de saúde mental podem estar mais expostas a solidão, como no caso da fobia social (ou ansiedade social), que pode tornar mais difícil a participação em atividades do dia a dia que envolvam outras pessoas. Deste modo, quem sofre de fobia social pode não conseguir ter níveis desejáveis de contacto social e, por isso, sentir-se só.
Além disso, a solidão pode ela própria prejudicar a saúde mental, sobretudo quando já está presente de forma prolongada. A solidão pode ser um fator de risco de alguns problemas de saúde mental, como:
- Baixa autoestima
- Ansiedade
- Depressão
- Stress
- Distúrbios de sono
Sabia que…
Pessoas que têm relações mais fortes com outros tendem a ser mais felizes, saudáveis e produtivas. Por outro lado, quem não estabelece relacionamentos próximos pode sentir-se isolado, incompreendido e deprimido.
Os efeitos da solidão na saúde
A solidão pode ter várias consequências para a saúde, tanto físicas como mentais. Fique a conhecê-las.
1. Prejudica o sistema imunitário
A longo prazo, a solidão altera as defesas tornando mais difícil combater as ameaças (ou doenças) de forma tão eficaz. Um fator que pode parcialmente explicar este efeito é o facto de a solidão levar à produção de hormonas que o organismo segrega em situações de stress.
2. Está associada a níveis mais altos de pressão arterial
Quando uma pessoa se sente sozinha, sobretudo se esse sentimento perdura por anos, é mais provável que a sua pressão arterial seja mais elevada. E é a solidão em si que provoca este aumento? Ainda não foi comprovada uma relação causa-efeito, mas os investigadores já conseguiram excluir outros fatores como histórico familiar, idade, alimentação ou género.
3. Reduz a adesão ao exercício físico
Fazer menos exercício físico ou até mesmo eliminar este hábito da rotina é mais comum em pessoas que sofrem de solidão.
4. Facilita o aumento do peso
Isto acontece porque, quando estamos sozinhos, tendemos a comer mais ou até a optar por alimentos menos saudáveis e que nos tragam algum “consolo”, o que se pode associar a não praticar exercício físico.
O aumento do peso, além de poder prejudicar a autoestima, pode também aumentar o risco de doenças como:
- Diabetes
- Pressão arterial alta
- Doença cardíaca
5. Afeta o desempenho cognitivo
A solidão pode prejudicar a capacidade de resolução de problemas ou até a memória e levar a um aumento do risco de vir a desenvolver doenças neurológicas como a de Alzheimer. No entanto, é importante ter em consideração que não está comprovada cientificamente uma relação causa-efeito e que existem múltiplos fatores que podem influenciar esse risco.
6. Aumenta a probabilidade de tabagismo
Se as pessoas se sentem sós, a probabilidade de fumarem é maior, o que pode ser muito prejudicial para a saúde já que o tabaco está associado a cancro, doenças cardíacas e pulmonares, mas também diabetes.
Sabia que… Sofrer de solidão facilita o abuso de substâncias, como o álcool.
7. Favorece a depressão
A relação entre a depressão e a solidão é bidirecional. Quando nos sentimos isolados, podemos começar a ficar deprimidos e quando estamos deprimidos tendemos a isolar-nos, o que pode agravar o problema.
8. Pode perturbar o sono
Pessoas que sentem solidão apresentam com frequência alterações do sono, incluindo, por exemplo, dificuldade em adormecer. O sono de má qualidade pode ter várias consequências negativas, como maior dificuldade de concentração, alterações do humor e aumento do risco de doenças como diabetes, doença cardíaca, pressão arterial elevada, depressão e obesidade.
Como combater a solidão
Por vezes, para conseguir ultrapassar sentimentos de solidão é necessário sair um pouco da zona de conforto desde que não coloque demasiada pressão em si mesmo. Fique a conhecer algumas estratégias que o podem ajudar:
- Reconheça os seus sentimentos: todos nos podemos sentir sós de vez em quando, mas se já se apercebeu que é assim que se sente na maioria do tempo, deve tomar algumas atitudes para resolver a situação.
- Inscreva-se num clube ou aula sobre algo que seja do seu interesse, como xadrez, leitura ou até um desporto, e conheça outras pessoas que partilham do mesmo gosto. Mas vá com calma, pois, se se sente sozinho há muito tempo, pode ser difícil voltar a relacionar-se com pessoas novas. Se é o seu caso, pode começar por uma atividade online em que, à partida, não há tanta interação entre os participantes, como aulas de desenho.
- Faça planos com amigos e família. Por exemplo, prefira ter uma conversa em pessoa em vez de fazê-lo por mensagens. Se o contacto presencial não for uma opção, fale com essa pessoa por chamada em vez de por mensagens.
- Fale sobre os seus sentimentos com amigos ou familiares.
- Ponha em prática hábitos de autocuidado, como a prática regular de exercício físico, um sono de qualidade e uma alimentação saudável. Passar algum tempo ao ar livre também pode contribuir para o bem-estar, assim como, para algumas pessoas, estar com animais, sejam os de estimação ou os que se encontram no seu habitat natural.
- Torne-se voluntário ou faça pequenas boas ações, por exemplo, na sua rua ou no seu bairro, pois ajudar outras pessoas pode contribuir para uma melhor saúde mental.
- Não se compare com outras pessoas. É importante ter em mente que nem tudo é o que parece. Podemos, por exemplo, ver aquilo que determinadas pessoas partilham nas redes sociais (o que nos pode levar a pensar que somos os únicos que nos sentimos sós), mas não sabemos como se sentem quando estão sozinhas.
- Faça uma pausa nas redes sociais. Este gesto pode ser um incentivo para que procure relacionar-se presencialmente mais com outras pessoas.
Atenção!
Se tem dificuldade em relacionar-se com outras pessoas, consultar um especialista em saúde mental, como um psicólogo, pode ajudar.
Fonte: Cuf
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