Geral Opinião

A diferença entre design e arte é cada vez mais subtil

Fotos: Caras

É estranho como na arte as discussões sobre se o que é importante e relevante é a criação artística, a concepção das peças, ou a sua materialização nos diversos suportes, e nas diversas categorias em que se dividem.

Já no passado, em todos os períodos anteriores ao Modernismo, esse problema se punha e ainda se coloca quando se quer atribuir a autoria a uma obra por vezes não assinada, pois trabalhavam nos “ateliers“ dos então mestres, assalariados e dezenas de alunos, que muitas vezes pintavam e esculpiam as obras  criadas, concebidas  pelos  mestres, que os esboçavam, e desenhavam , sendo as suas obras posteriormente,  e na sua maioria pelas suas escolas executadas. excepto algumas partes. que exigiam mais rigor por serem mais pormenorizadas, ou seja, a maioria dos “grandes mestres”, formavam pintores, faziam escola, e só desta forma podiam satisfazer as necessidades do mercado, sendo que todos  esses trabalhos  no final da sua execução  eram assinados pelos respetivos mestres, e a eles era, e é reconhecida a sua “paternidade”.

Se no passado esta prática já era recorrente, atualmente ela ainda permanece, sendo de destacar, e a título de exemplo as obras da artista Joana de Vasconcelos, cuja maioria das peças são executadas nas suas enormes instalações, por equipas multidisciplinares, pois grande parte das suas peças são de grandes dimensões, sendo por vezes necessários engenheiros para as dimensionar, não obstante no final da sua execução  a autoria da obra é reconhecida, bem como a sua cotação, como não podia deixar de ser, à sua criadora.

Com o advento dos computadores, da robótica, da impressora 3D, e a existência de vários tipos de suportes, nas artes plásticas, o criador, poderá, depois de conceber a sua obra, executá-la com recurso a estas várias tecnologias, e suportes nāo deixando de delas ser o seu autor.

Moisés Preto Paulo, um grande escultor português, numa troca de ideias que com ele mantive sobre este assunto, referiu que a evolução na escultura , pode ir nesse sentido, pois nāo é a força e a execução que emprega na execução das suas obras em pedra , com recurso as rebarbadoras de pedra  que interessam , pois a autoria das mesmas  tem de ser sempre atribuída ao seu criador, devendo ser essa a característica que devia ser considerada na cotação do mercado das artes, e sublinhou que por ele podia facilmente dispensar o esforço de as concretizar, tendo-me a este propósito referido que as esculturas de Gaudi na  Basílica da Sagrada  Família, estão a ser executadas por robots de acordo com os desenhos originais dele, e que a autoria delas é sem dúvida de Gaudi.

A pergunta que se pode fazer no fim desta discussão é sobre o que vai definir a diferença entre o design e a arte, que passam a ser muito próximas, senão coincidentes.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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