Macron segue a tradição francesa de querer autonomia ou independência em relação à NATO e aos EUA.
No ano já longínquo de 2001, fui nomeado delegado nacional para desenvolver as capacidades militares da União Europeia, definidas em Helsínquia e designadas por Helsinki Headline Goal, lugar onde me mantive cerca de dez anos.
Nessas reuniões iniciais percebi imediatamente as tensões existentes entre os estados-membros mais europeístas liderados pela França, e os mais atlantistas liderados pelos EUA, que divergiam no ponto de partida para se planearem estas capacidades, se a EU deveria ser autónoma, ou mesmo independente em relação à NATO, ou se deveria ser complementar.
O confronto entre estas duas concepções antagónicas foi sempre muito renhida e sempre que se discutia um qualquer documento, este era sempre muito negociado entre os delegados e as capitais, e qualquer referência que se fizesse à NATO, era muito complicada pois os ingleses exigiam que esta aparecesse em todos os documentos e os franceses sempre se opunham, pelo que o documento depois de negociado ficava sempre de difícil compreensão, pois mesmo quando os ingleses diziam e conseguiam aprovar que se deviam evitar planear capacidades para a UE, que já existissem na NATO, os franceses replicavam que estas eram imprescindíveis, e aí começava uma luta entre as duplicações desnecessárias e as necessárias.
Em resumo, o grupo ia trabalhando e a França muitas vezes levou a sua avante e vice-versa, sendo que o tempo que se demorava a acordar documentos, que no caso da defesa têm que ser por consenso era muito grande, e todo o processo que devia ser rápido era extremamente lento.
Sempre que ia ao Pentágono integrado na delegação portuguesa, eu como representante de Portugal no HTF, era interrogado durante horas a fio, com o intuito de saberem ao pormenor o que a França tinha discutido em cada documento, quais eram os argumentos principais, qual era a minha relação com os delegados franceses, enfim quase que um relatório pidesco.
Com a saída do UK da UE a liderança dos atlantistas passou para os Países Baixos e para a Polónia e a discussão continuou, e o levantamento de capacidades militares europeias autónomas foi avançando liderada pela França, embora lentamente.
Portugal assumiu sempre uma posição mais atlantista, algo que eu como delegado nacional tinha de defender, embora fosse e sou assumidamente mais europeísta.
Concluíndo, agora com a guerra às portas da Europa e com uma provável vitória de Trump nos EUA, é urgente e necessário não perder mais tempo e apostar numa defesa europeia, voltar a desenvolver a defesa europeia, e acelerar o processo que os americanos quiseram sempre atrasar, pois nunca quiseram que a Europa saísse debaixo da sua tutela, deixasse de ser uma espécie de protetorado, ou seja tratar-nos como um filho trata um pai demente e fraco.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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