Quando um amigo me convidou para escrever neste jornal confesso ter tido a necessidade de ponderar longamente antes de aceitar assinar artigos de opinião neste jornal sobre Política Local e Regional, pois temia ferir suscetibilidades e criar inimizades na terra que escolhemos para habitar e criar a família há algumas décadas.
 Dar uma opinião isenta e honesta neste país à beira mar plantado é crime de lesa Majestade,  pois senão temos um grupo, partido político ou organização seja de que tipo for por trás, ou
 seja se tentar ser independente, tornamo-nos uma ameaça ao “status quo”. Uma opinião  isenta é algo muito estranho, e se for incómoda é preciso calá-la imediatamente e de qualquer
 forma.
 Durante muitos anos, escrevi, opinei e defendi a Política Europeia, pois considero que Portugal  não tem viabilidade nem futuro senão estiver integrado num grande espaço cultural e  económico, ou seja numa União Política com os outros estados-membros, em que o termo  cooperação seja usado em vez do termo competição.
 Durante cerca de uma década fui um dos pioneiros da Política Comum de Segurança e Defesa  por ter sido nomeado, representante nacional num Grupo de trabalho com a missão de  desenvolver as Capacidades Militares Europeias, facto que me trouxe alguns dissabores na  minha carreira como militar, pois estive praticamente ausente dos assuntos e das disputas de  poder internas e próprias da Instituição Castrense.
 Recordo com alguma tristeza que numa das vezes que fui ao Pentágono em trabalho integrado  na Representação Portuguesa, de durante um jantar de trabalho ter sido o alvo preferido da
 delegação Americana, que me infligiu um questionário quase “pidesco” sobre a posição da  França em termos de autonomia da defesa europeia, tentando influenciar-me e influenciar o
 curso do trabalho em que estava, em conjunto com os representantes dos outros estados- membros, a realizar no Grupo de Trabalho supra -referido. Recordo-me também de vários
 outros episódios semelhantes que me marcaram em Portugal, em que fui acusado de falar  “europês”, ao defender a construção duma defesa europeia autónoma da NATO.
 Todas estas razões levaram-me a meditar longamente antes de aceitar voltar a dar uma  opinião, pois quando passei à reserva pensei poder descansar, no entanto a minha consciência
 obrigou-me a vir algumas vezes a terreiro, quer no Diário de Notícias quer na SIC defender  posições, por vezes em contradição com a Instituição que servi cerca de quatro décadas, por
 não concordar com algumas posições por ela assumidas, inconsoantes com a sociedade onde  ela atualmente se insere.
 Não estranhei por isso sentir alguma tensão quando formulo a minha opinião sobre política  local e Regional, neste jornal e no 1717 acreditar, pois já esperava que esta gerasse alguma  controvérsia, tendo inclusive já recebido alguns “lamirés” acerca da incomodidade que ela  tem estado a gerar nalgumas matérias, tendo-nos chegado a informação que esta podia ser  prejudicial às instituições de Solidariedade Social a que tenho dado graciosamente o tempo e  contributo, no entanto custou-me bastante que alguns artigos que publiquei neste jornal,  tenham sido alvo de difamação pessoal, pois as opiniões debatem-se e rebatem-se com  opiniões e não de outra qualquer forma que só desqualifica quem as escreve e emite.
 As opiniões pessoais em artigos assinados são naturalmente motivos para contestação e para  reflexão, podendo e devendo ser contraditadas pois é nessa dialética que se encontra muitas vezes o caminho. 
Ter opinião é uma forma de se exercer a cidadania e contribuir para a solução, quer a nível europeu, quer nacional, quer local e regional, como tal dela nunca abdicarei.
 Nuno Pereira da Silva
 Coronel de Infantaria na Reserva









 
				
				


 
		
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