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O Hamas vai perder esta batalha, mas paradoxalmente a Palestina vai ganhar a guerra

Foto: CNN Portugal

Num país em constante conflito, desde a sua génese, milhões de pessoas e de famílias sofreram durante décadas, as consequências do mesmo, algumas com mais severidade que outras, por terem visto morrer vários elementos da sua família em vão.

Israel e os palestinianos, dificilmente se entendem duma forma pacífica, pois ambos os povos reclamam pelo território, que é escasso e pobre, pois com exceção da Cisjordânia o território é praticamente um deserto, o deserto do Neguev.

A luta pelo território e pelos escassos recursos naturais, incluindo a água é quase que uma luta existencial, que é insanável.

A exploração de gás “off shore” é atualmente um novo recurso, recém descoberto e explorado que vem mitigar um pouco a inexistência de recursos naturais, facto que poderá no futuro vir a ser uma dificuldade acrescida, se alguma vez a solução de dois estados vier a ser implementada, como espero.

Neste país, nesta terra-santa para três religiões, ainda temos de acrescentar a dificuldade de arranjar uma solução para Jerusalém cidade que, com os eternos conflitos pela sua posse, ainda acrescenta mais um problema, à difícil execução de qualquer plano de paz, que implemente a solução de dois estados.

Nesta sociedade em guerra, é fácil que as posições se extremem, e que surjam radicais de ambos os lados.

Sendo Israel um estado soberano, como qualquer estado tem o monopólio do uso da força, ou seja, pode dispor de serviços de informação, de Forças de Segurança e de Forças Armadas, podendo usá-las e recrutar legalmente militares, pelo que nelas podem ser recrutados vários elementos radicais, duma forma legal.

Os palestinianos, a quem foi reconhecido pela ONU o direito a ocuparem e administrarem os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, embora disponham de Forças de Segurança, não têm Forças Armadas, pois não são reconhecidos como um Estado soberano, o que faz com que os radicais cada vez mais militem em grupos considerados pelo Ocidente por terroristas, pois o seu modo de atuação é caraterístico de todas e quaisquer forças irregulares, ou de guerrilha.

Claro que o apelo à “Jihad” é algo que desde a ocupação britânica e francesa, é recorrente, ou seja, esse apelo é algo que considero legítimo, pois os palestinianos, necessitam de alianças, quando se revoltam contra Israel, que pouco a pouco, vai tomando conta dos territórios reconhecidos como palestinianos, ocupando-os com colonatos ilegais, que limitam a liberdade de movimentação dos palestinianos no seu território, sendo mesmo proibidas as ligações entre o território de Gaza e da Cisjordânia.

Não sendo os territórios da Palestina um Estado, o estado de Israel, teria a obrigação de os proteger ao invés de os atacar com Forças Armadas, e de eventualmente combater as insurgências, com Forças de Segurança e não com Forças Armadas, ou seja, não se declara guerra num território que legalmente é nosso, nem se chacina a sua população.

O Hamas vai certamente perder esta batalha, mas parece-me, que depois deste genocídio que Israel está a efetuar em Gaza, vai fazer com que a Palestina ganhe um Estado, ou seja, a Palestina no final vai ganhar esta guerra, que dura desde antes da formação do estado de Israel.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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