Durante muitos anos, quando na nossa juventude, era tradição familiar deslocarmo-nos propositadamente a Lisboa com o fim de ver as iluminações natalícias, que só existiam na cidade capital e talvez, não temos conhecimento, no Porto.
Com a Democracia as Autarquias, que passaram a ser eleitas pela população, todas ou quase todas, começaram a patrocinar iluminações de Natal nas suas localidades,primeiro nas sedes de Concelho e posteriormente nas suas localidades mais recônditas, quer direta quer indiretamente patrocinando as Associações de comerciantes para o efeito, contratando para isso empresas capazes de realizar esse serviço. Lembramo-nos que as primeiras empresas que apareceram no Algarve, especialistas em iluminação eram empresas do Norte do país , que trabalhavam em condições muito precárias, com equipamentos inadequados que por vezes eram causas de acidentes de trabalho graves.
Quando viemos para Mafra na década de oitenta do século passado, Mafra era uma localidade distante de Lisboa, pois embora perto da capital, em termos de distância, os acessos rodoviários e ferroviários eram difíceis e penosos, a terra parecia um enorme quartel, pois nela viam-se centenas de militares fardados depois das refeições, sendo inclusive o toque de recolher às 22:00 h tocado pela fanfarra da EPI em frente ao Palácio, não nos recordando na altura ainda da existência de quaisquer iluminações natalícias nem na terra, nem no Real edifício de Mafra.
As iluminações de Natal em Mafra e nas principais localidades do Concelho, o surgimento de mercados natalícios e de diversões relacionadas com a época do Natal, têm vindo paulatinamente ao longo dos anos, cremos que terão começado na década de noventa do século XX, a ser uma marca indelével do Concelho, a que o Real edifício de Mafra se costumava associar engalanando-se e iluminando-se para o efeito, facto que deixou de fazer há alguns anos, o que torna a vila muito menos apelativa em termos turísticos.
No ano transato ainda foram colocadas algumas estrelas de Natal, no solo iluminadas, na imensa recente Praça em frente ao Real edifício de Mafra, facto que não se repetiu no corrente ano, ano em que o monumento foi inclusive considerado Património Cultural da Humanidade.
Sabemos que o edifício é por si só imponente, sendo a pérola do Barroco Italiano Português, no entanto uma iluminação sóbria, como foi colocada durante alguns anos nesta quadra natalícia, não nos parece que tirasse a importância nem a beleza do edifício, antes o valorizaria pois o Barroco sempre primou pela sua exuberância e luxo. No mínimo que fosse colocado o tradicional presépio frente à Basílica, seu local usual há alguns anos, e que eventualmente fosse colocada uma árvore de Natal na Praça, facto que até na imponente Praça de São Pedro no Vaticano é realizado nesta altura do ano, não desvalorizando em nada o riquíssimo património do conjunto arquitetónico Barroco mais importante do Mundo. Não queiramos ser mais papistas que o Papa.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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