O espetáculo de bellydance, também conhecido como dança do ventre, é uma representação artística plena de habilidade e expressão corporal. A dança do ventre, originária do Medio Oriente com raízes culturais profundas, sendo considerada uma das danças mais antigas do mundo.
O palco é iluminado suavemente, criando uma atmosfera de mistério e envolvência com quem assiste onde as dançarinas entram em cena com um trajes coloridos e exuberantes, que realçam os seus movimentos e expressões.
Durante toda a apresentação, a dançarina interage com o público, transmitindo emoção ,envolvendo todos os espectadores. Olhares expressivos e sorrisos cativantes são “ferramentas” para envolver o público na sua representação.
O espetáculo é uma experiência visualmente cativante. É como que uma celebração da feminilidade, do poder e da beleza do corpo, além de uma oportunidade para sentir a cultura rica e exótica do Médio Oriente.
Sendo um leigo na matéria, foi esta a sensação com que fiquei do espetáculo que assisti no passado domingo na Ericeira, apresentado por Safiyah e suas alunas a que deram o nome de “Baladi”.
O espetáculo composto por dez momentos foi desta forma caracterizado por Safiyah”:
1 – Shamadan e Sagat
Coreografia e interpretação: Safiyah.
Música: “Ah Ya Zein” Artista: Salatin Al Tarab Orchestra
Shamadan é o nome que se dá ao candelabro com velas que tradicionalmente a bailarina equilibra na cabeça durante a marcha nupcial El Zaffa. Sagat são instrumentos metálicos que se tocam com os dedos de origem ancestral com registos históricos de mais de 3000aC por todo o Mediterrâneo. Este acto de dançar com velas a tocar sagat é muito popular em casamentos egípcios com o intuito de iluminar o caminho aos noivos.
2 – Dueto Shaabi/Baladi
Coreografia e interpretação: Leyla (Sofia Santos) e Helena Marques Música: “Shik Shak Shok” Artista: Hassan Abou El Seoud
Shik Shak Shok
Nassik ya habibi il rap w il rock Wi ta aala nir’os baladi Halawa
Dal baladi ya nour eini
Wa ta aala nir’os baladi
3 – Dança com Véu. Turma Nível I.
Shik Shak Shok
Meu querido, vou-te fazer esquecer o rap e o rock Vem comigo dançar Baladi
Oh doce
Este país é a luz dos meus olhos
que perfura o meu coração
Bailarinas: Alexandra Querido, Joana Oliveira e Laura Pereiras. Coreografia: Safiyah Música: “Amulet (2005)” Artista: Natacha Atlas
A dança com véu é bastante recente, já do século XX. Bailarinas e actrizes famosas egípcias da Golden Era, trazem este e outros elementos cénicos para embelezar os seus actos de dança, muitas vezes inspiradas pelo ocidente.
4 – Pop Egípcio.
Coreografia e interpretação: Maria Nascimento Música: “Beraha ya Sheekha” Artista: Bahaa Sultan
Este tema fala sobre a pressão social que uma mulher egípcia (e não só) sente para corresponder aos ideais masculinos e protótipos de beleza, chegando a ser avassaladora. Música actual muito ouvida e dançada nos casamentos e clubes mais populares do Cairo e por todo o mundo árabe. Convida a que todos dancem o seu beat.
5 – Raqs Safiyah
Coreografia e Interpretação: Safiyah
Músicas: “Hilwa Laaba Di” e “Ooloo” Artista: Rania
Safiyah dança com a força e paixão que o Raqs Sharqui (Dança Oriental) estilo egípcio exige. Pés na terra, ancas soltas e sinuosas, vibrações extenuantes a um ritmo que ninguém conseguirá segurar. Aywa!
6 – Baladi.
Coreografia e Interpretação: Leyla
Música: “Taksim” + “Baladi” Artista: Armen Kusikian
Baladi significa “minha terra” ou “meu país”. O Raqs Baladi (dança baladi) é a dança que mais influenciou o bellydance moderno. Baladi é a força e alma de um povo que depois de tantas conquistas e colonizações, desde o esplendor da sua Antiguidade, finalmente afirma a sua identidade. Já no século XX o povo egípcio clama a sua independência e resgata as suas tradições. Baladi é nostalgia, é amor pelo país e pelo seu povo. É o fado dos apaixonados, o orgulho dos crentes, é a celebração da vida aqui e agora.
7 – Saidi. Turma Nível II.
Bailarinas: Ana Margarida Silva, Marta Esteves e Sara Costa. Coreografia: Safiyah Música: “Saidi Salamat” Artista: Outi of Cairo
Saidi significa alegre. É também o nome de um ritmo e de um estilo de música, tal como de uma região no Sul, ou melhor, no Alto Egipto – Said. Saidi ou Raqs al Assaya (dança do bastão) é uma dança tradicional egípcia inspirada na arte marcial milenar Tahtib, em que se pratica com bastões e se simula o movimento de lutar em cima do cavalo. O Tahtib foi nomeado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2006.
8 – Clássico Egípcio
Coreografia: Safiyah. Interpretação: Matilde Marcelino.
Música: “Aziza” Artista: Hossam Ramzy (original de Mohamed Abdel Wahab)
Uma das mais famosas músicas clássicas árabes egípcias com muito sabor baladi através dos seus taqsim de acordeão. Mohamed Abdel Wahab (1902-1991) é um dos músicos e compositores egípcios de maior referência no mundo árabe até os dias de hoje.
9 – Melaya Laff. Turma Nível II.
Bailarinas: Carina Nascimento, Helena Marques, Maria Nascimento e Sofia Santos (Leyla) Coreografia: Safiyah
Música: “Melaya Laff” Artista: Bassam Ayoub
Dança tradicional egípcia do delta do Nilo, nomeadamente da Alexandria. Melaya é o nome do manto negro tradicionalmente usado pelas mulheres quando saiam à rua. Por baixo do manto, vestiam as últimas modas trazidos pelo Mediterrâneo. Laff significa “embrulhado”. Melaya Laff é uma dança alegre, por vezes satírica e até atrevida.
10 – Tarab.
Coreografia e interpretação: Safiyah
Música: “Mawood” Artista: Safaa Farid (original de Abdel Halim Hafez)
Tal como a palavra “saudade” não tem tradução, tarab também não. Tarab é um estado de êxtase que os músicos, intérprete e audiência atingem com determinadas músicas ou momentos musicais. É uma vivência que só se atinge nestes momentos específicos através de por exemplo um taqsim ou mawal, de extrema emoção e profundidade, capaz de perfurar os corações mais duros. Tarab é
entrega, é vulnerabilidade, é ter a força da natureza numa voz que levita a alma.
Texto e fotografias de Carlos Sousa/ KPhoto
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