Snu é a protagonista do filme realizado por Patrícia Sequeira, sobre a vida de Snu Abecassis, que está em exibição na plataforma HBO.
Francisco Sá Carneiro partilhou parte da sua vida íntima com Snu, dinamarquesa, editora da Dom Quixote, que teve um papel importante na vida cultural e intelectual portuguesa na década de setenta do século passado, tendo ajudado com as suas edições a mudar a mentalidade das elites portuguesas e, consequentemente do país, tradição que a editora mantém ainda na atualidade, integrada no grupo Leya.
Snu, após o 25 de Abril e ainda casada, entrevistou os principais políticos da altura tendo-se apaixonado por Sá Carneiro, também ele casado, tendo daí nascido uma relação amorosa que não redundou em casamento porque a mulher de Sá Carneiro nunca se quis divorciar, algo que legalmente na época podia acontecer num país na altura anacrónico em termos de costumes e não só.
Sá Carneiro assumiu publicamente perante todo o país a relação amorosa, algo que muito o prejudicou na sua vida política pós 25 de Abril, não se escondendo nem iludindo ninguém, algo fora de comum numa sociedade, na altura, de vícios privados mas de públicas virtudes, em que normalmente estas relações tinham-se encobertas vulgo “à capucha”, em contraponto com o país de origem da protagonista, a Dinamarca, em que esta já tinha sido educada no seio de um casal, em que sua mãe e padrasto se haviam constituído como casal após se terem divorciado de uma primeira relação.
Recordo-me desta história de coragem e dos epítetos que chamaram a Snu, e das humilhações que ela sofreu por não ser formalmente convidada para cerimónias públicas.
Sá Carneiro foi instado pelos seus conselheiros e ministros, a mudar a lei que impedia que se divorciasse sem o consentimento da ex-mulher, e não o fez alegando que nunca legislaria em causa própria, algo que só relevou e releva o seu caráter e a sua forma de liderar.
O filme está muito bem realizado, com uma extraordinária fotografia e ressuscita uma história de amor improvável na época, reabilitando a memória de Snu, que tão mal foi recebida na época.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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