Nos tempos modernos, comemoram-se os “dias de tudo “e de mais alguma coisa. Ele é o dia do amigo, o Dia dos Namorados, o Dia da Mãe, o Dia dos Avós, etc, e…o Dia do Pai que, em Portugal, é comemorado no dia 19 de março e evoca o Dia de São José, santo popular da igreja católica, marido da Virgem Maria e o pai terreno “adotivo” de Jesus Cristo.
Acerca do Dia do Pai, existem algumas histórias sobre a sua origem, mas a mais “carinhosa” é aquela história da homenagem dum filho ao seu pai na antiga Babilónia que pode ter dado origem ao Dia do Pai. Terá acontecido em 2000 a.C. (há 4.023 anos) quando um rapaz de nome Elmesu escreveu uma mensagem numa placa de argila, em que desejava saúde, felicidade e muitos anos de vida ao seu pai. Para haver pai, tem de haver mãe, pois a maternidade é um ato a dois, ainda mais se for também um ato de amor e não apenas um ato sexual, às vezes meramente carnal e cujo “rebento” desse ato não é desejado.
No nosso país, ou melhor, na cultura ocidental e de países “ricos”, ser pai/mãe é cada vez mais um “ato corajoso”, pois muitos casais, na conjugalidade e em idade criadora, optam por não realizar o ato da natureza e da árvore genealógica. Alguns, preferem realizar a partilha desses afetos nos animais de estimação, tal é o enlevo como tratam os seus “filhos”, assim os designam, de quatro patas. Justificam essa opção de recusa da maternidade/paternidade com vários argumentos, mas muitos não” pegam”, porque o que está por de trás dessa recusa são as muitas opções alternativas à não maternidade. Por exemplo, usar o dinheiro que custa e muito criar uma criança, muito para além dos dezoitos anos, nos atos de hedonismo, cada vez mais enraizado nas culturas modernas, dispensarem sacrifícios de vária ordem que é ter e criar um filho e tudo mais que essa missão, nobre, implica, etc.
Assim, as crianças são cada vez mais tesouros e até os termos que usamos no seu tratamento e os exageros das “concessões materialistas” evidenciam isso mesmo: princesas/príncipes, etc. Portugal é dos países do mundo com a mais baixa natalidade e essa realidade não parece ser invertida, porque as motivações não apresentam novidade e isto preocupa os políticos e os economistas, porque levará, consequentemente, ao decréscimo da população dos países ricos pondo em xeque o modelo sócio económico das sociedades modernas. Nestas, o tecido humano não se regenera e entra mesmo em declínio, diminuindo os trabalhadores, os cuidadores e os consumidores, aqueles que sustentam o modelo socioeconómico.
Infelizmente, e contra os desejos dos ecologistas, a população mundial continua a crescer e já atingiu os oito mil milhões e continuará a crescer, mesmo que a China, o país mais populoso do mundo, já vislumbre num horizonte não muito longe, problemas derivados ao decréscimo da sua população. Mas a Índia está prestes a ultrapassar a China e de acordo com cálculos da ONU, dentro de quinze anos o mundo somará mais mil milhões de habitantes e atingirá cerca de 9,7 mil milhões de pessoas até 2050.
Assistiremos, assim, a um duplo desequilíbrio da população, isto é, uns países a crescerem e a abarrotarem e outros a “minguarem”, como seria o nosso país, se, desde há poucos anos, tal como no resto da Europa, não estivesse a ser invadido por imigrantes de várias origens, mesmo dos mais longínquos geográfica e culturalmente, como é ocaso do Nepal, Bangladesh, Paquistão e India. Esta “invasão massiva” está já a levantar problemas sociais graves, como têm sido exemplos ocorridos no nosso país e outros poderão levantar-se, se não soubermos integrar estes “exércitos de gente”, jovem, mas com desequilíbrios de género, isto é, maioritariamente masculina, o que poderá levantar outro tipo de problemas. Aliás, cerca de um terço dos nascimentos ocorridos recentemente em Portugal, já são de mães estrangeiras que, permanecendo aqui, acabam por substituir e compensar a baixa natalidade dos portugueses e, desse modo, permitir
manter o equilíbrio da estrutura económica e social do nosso país. Mas saberemos agir de modo a não estamos a “importar” um problema grave. Está nas mãos de todos, mas deseja-se que as autoridades compram a sua função, pois esta é uma função de governação de presente e de futuro.
Sou avô de cinco netos, todos abaixo dos dez anos e cuidador deles e, obviamente, fui pai “cumprindo”, com a minha paternidade, a média de nascimentos por casal para que a sociedade portuguesa não entrasse em regressão populacional. Mas, uns por opção e outros por dificuldades, muita gente não realizou a natureza, permitam-me designar assim, porque todas as espécies vivas “procriam” e perpetuam as suas espécies. Nasci numa década, um pouco a seguir ao final da II Grande Guerra Mundial que gerou em Portugal um “baby boom”, essencialmente no mundo rural, com “ninhadas” de filhos que tiveram, que lutar pela sobrevivência, e abandonar, prematuramente, o ninho pobre e partir à descoberta do mundo, interno e externo (migração para as cidades e emigração para o Brasil e Europa). Foi esse “baby boom” que fez a população portuguesa dar um pulo em número ao ponto de não “caberem” todos neste cantinho à beira-mar plantado.
Depois, a melhoria das condições de vida e os métodos “contracetivos” e libertos do peso religioso, a natalidade começou a baixar e teria os efeitos atrás citados. Tomemos o exemplo duma família de seis filhos, do citado baby boom, estes geraram treze descendentes, mas a terceira geração já só gerou doze e por aí ficará, apesar dalguns deles ainda estarem em idade procriadora e com capacidade sócio económica nada comparável à dos seus pais. Opções que confirmam a tendência para a não paternidade.
Ser Pai, eu? Não, obrigado, dizem muitos/as. Antes um cão que dá menos trabalho e menos despesa (ver a este propósito a minha Crónica:” Uma Criança ou uma Cão?”). A vida vive-se sem fraldas, sem choros, sem birras, sem noites em branco, sem despesas,
etc, dizem. Mas aqueles que hoje não encontram motivações para a maternidade/paternidade, porque têm outras opções de lazer, não “caíram na terra” vindos doutro planeta. Foram gerados e criados pelos seus pais, e na velhice não terão quem lhes “fechará os olhos” no seu minuto final de vida. Ser pais/mães, é viveremos na memória dos outros e só morreremos, de verdade, quando ninguém mais se lembrar de nós. Viveremos enquanto formos pensados, enquanto habitarmos na memória e na alma dos outros. Existimos nas nossas criações, a maior criação humana: como pais.
Existimos para legar memórias aos nossos filhos e netos. Existiremos nos nossos filhos, se os geráramos e criarmos, e continuaremos depois, nos nossos netos, se os nossos filhos quiserem continuar a natureza, e só “morreremos” quando o tempo esbater as memórias. Se a árvore genealógica se perpetuar, o nosso ADN permanecerá depois de nós morrermos, fisicamente e o amor paternal/maternal é a única coisa que transcende o tempo e o espaço. A única imortalidade que nos é certa é continuaremos no sangue dos nossos filhos e a alegria maior é quando percebermos que eles, os filhos, se tornaram excelentes pessoas e cidadãos, para além de filhos e netos maravilhosos. Mas, o “materialismo” é inimigo da memória e, infelizmente, o pós-morte é cada vez de tempo mais curto. Sem pai e sem mãe, eu não estaria aqui a desabafar com o leitor. Vivó os Pais e as Mães.
Serafim Marques – Economista (Reformado)
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