Ao fim de um ano de guerra na Ucrânia, fiquei surpreendido com três coisas: A grande ineficiência Russa, a resistência da Ucrânia e a improvável coesão entre o Ocidente alargado.
Relativamente ao primeiro ponto, como militar sempre estudei a fundo o inimigo, a ex-URSS, a sua organização e doutrina de emprego tático, conheço a sua forma privilegiada de atacar, usando vários escalões em profundidade, sempre com muitas unidades de artilharia disponíveis, nos vários escalões, bem como a utilização das suas BTR’s, mais tarde BMP’s, para transportar a Infantaria em apoio dos seus carros de combate de uma maneira segura e rápida, e estava à espera de ver atuar estas unidades de forma coordenada, e tirando partido da superioridade aérea, que desde o início possuem, de uma forma eficaz. Mas enganei-me redondamente, vejo exatamente o oposto do que estudei, e estou estupefato com os erros-crassos que os russos cometem, que na maioria das vezes roça o ridículo, pois vejo-os a usar a sua infantaria a avançar sem proteção, em ataques frontais, contra pontos fortes da defesa dos ucranianos, denotando boçalidade e falta de respeito pela vida dos seus soldados, que mandam para a morte certa, sem dó nem piedade.
A errada utilização da sua força blindada e mecanizada, parada em autoestradas, dias à porta de Kiev, só não constituiu um sério desastre, porque os ucranianos pareciam não dispor de armamento anticarro adequado, ou a sua surpresa foi tanta que foram incapazes de reagir.
A campanha russa, no geral, tem sido mal coordenada, mal comandada e com erros crassos, que não consigo perceber, nem muitos dos camaradas que comentam a guerra nas TV’s, alguns deles ainda desconfiados de que o exército que estudámos, virá agora nesta nova ofensiva russa da Primavera.
Os ucranianos por sua vez, mostraram grande resiliência, capacidade de se defenderem eficiente, sobretudo no Donbass, em que as suas linhas trincheiras em profundidade, são realmente uma obra de engenharia militar muito eficaz, algo que nem eu nem ninguém esperava, pois no meu caso, estive a comandar alguns coronéis ucranianos no Iraque, que mesmo num país Árabe, conseguiam arranjar Vodka e todos os dias consumiam pelo menos uma garrafa, o que os fazia estar anestesiados, grande parte do tempo, mas ao que parece no que concerne ao consumo de vodka, nesta guerra, os russos parecem ter mais problemas no terreno.
O Ocidente alargado, por sua vez tem-se mostrado consistentemente unido no apoio à Ucrânia, malgrado alguns atrasos na entrega de material, mas que sobretudo são devido à complexidade e diversidade, dos distintos processos de tomada de decisão, em países democráticos, no entanto as democracias liberais, estes têm que se respeitar, porque é por elas e pela sua preservação, que estamos a apoiar a Ucrânia.
Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma
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