Opinião

A inveja

A importância de falar inglês...

A inveja

Como oriundo do Algarve, passei toda a minha vida a ouvir impropérios dos turistas portugueses, relativamente ao facto da região ser mais estrangeira que portuguesa, facto que os irritava sobremaneira, chegando por vezes a ser rudes com a população local, por 
esta estar muito mais virada, na sua acepção, para servir melhor os turistas estrangeiros que os portugueses.


Dada a afluência massiva de estrangeiros à região algarvia os serviços de hotelaria e restauração foram obrigados a contratar pessoal que falasse fluentemente a língua de Shakespeare, muitas vezes estrangeiros, e que as ementas dos restaurantes tivessem de ser escritas em versão bilingue.
Recordo-me que o Algarve, na década de sessenta do século passado, começou também a ser paulatinamente povoado, gentrificado, principalmente por Ingleses da classe média para nele poderem usufruir da sua reforma, num país em que o custo de vida era muito
mais baixo que no seu país de origem, facto que indelevelmente lhes proporcionava um estilo de vida muito superior à do seu país e ao da maioria dos autóctones.


O advento de urbanizações de luxo, associados à excelente rede de internet que possuímos no nosso país, e à proximidade do aeroporto de Faro, permitiu que nos finais da década de noventa do século passado, uma classe média -alta e alta, ainda na vida ativa, viesse habitar permanentemente a região com as suas famílias, podendo quando
necessário deslocar-se para qualquer parte da Europa e do Mundo.


À semelhança do Algarve todo o país parece ter sido redescoberto por turistas, e subsequentemente por novos residentes, que pelas mesmas razões, ora procuram estabelecer-se nas nossas grandes cidades e no nosso litoral, de que relevo a região da Ericeira no nosso concelho, onde no dia em que escrevo esta crónica fui servido num bar da região por cidadãos estrangeiros, cujo hoteleiro à semelhança do Algarve se viu
obrigado a contratar por falarem fluentemente a língua Inglesa, sem aparentemente haver reacções expúreas e indignadas por esse facto, não tendo o país e em especial a região da Ericeira deixado de ser Portugal.


Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva.